sexta-feira, 29 de abril de 2016

MINEIRICES


Tem a terra da gente, aquela onde se nasce e se aprende a amar. E tem aquelas terras que inexplicavelmente te falam ao coração. Às vezes cidades, às vezes estados, geográficos e de espírito.
Minas Gerais há muito virou paixão.
Não falo de tempos mais remotos quando ia a uma fazenda em Barbacena, ainda bem pequeno. São poucas as lembranças daquela época, como a dos imensos roseirais da cidade.
Nem tampouco das idas a São Lourenço já um pouco mais velho...
Descobri Minas, mesmo, na época da universidade.

Durante um bom tempo, por questões amorosas, frequentei BH. E me afeiçoei pela cidade, por seu pôr do sol no alto das Mangabeiras, por sua noite nos botecos do bairro São Pedro, por sua gente...
Sempre que posso, volto.


Depois veio o interior, as cidades históricas... Quantas lembranças boas Ouro Preto me traz.
Ladeira acima, ladeira abaixo.
Passeio de trem, igrejas centenárias, paisagens das janelas, gosto de jaboticaba.


Aliás (que minha irmã, que é nutricionista, não me ouça), para mim não existe comida mais saborosa do que a mineira. Uma linguicinha frita, um tutu com lombinho, um frango com quiabo, umas iscas de fígado com jiló, um pastel de angu.
E muita, muita pinga pra acompanhar. Pinga daquelas danadas que faz “inté homi pensá em casório”. Não é mesmo, “cumpadi” Marcelo?
Sem falar nos doces e queijos...
Mas Minas é muito mais.



É mar de montanhas vistos do alto do Parque de Ibitipoca. Uma imensidão a perder de vista.


É o trabalho de Aleijadinho, traduzindo e transformando a arte que vinha da Europa.


São os poemas de Drummond, as crônicas de Fernando Sabino, meu mineiro favorito com seu Encontro Marcado ou com as peripécias de Geraldo Viramundo.


É a música do pessoal do Clube da Esquina.
Muito da minha descoberta do espírito mineiro passa pela velha vitrola.
Milton, Lô Boges, Beto Guedes, Flávio Venturini e 14 Bis...
Na parede do meu quarto tinha posteres das capas do Clube da Esquina nº2 e do disco Sentinela, do Milton.



Dias atrás fui assistir a um show de Lô Borges e Samuel Rosa. Mineiros de gerações bem diferentes e, mesmo assim, com muitas semelhanças.
A mineirice é a fonte dos dois.


Uma mistura deliciosa que ia de Feira Moderna a Resposta. De Amores Imperfeitos a Um Girassol da Cor do Seu Cabelo.

Vejam alguns clipes da dupla:

E foi essa viagem no tempo que me deu a ideia de escrever esta postagem saudosa, Afinal faz já um tempo que não dou as caras por aquelas bandas.


Mas, como se diz em bom mineirês:
Xapralá. Daqui um “cadim” tô em Migerais dinovo.

terça-feira, 26 de abril de 2016

DE VOLTA PARA O FUTURO OLÍMPICO

Te convido.

Pode escolher: túnel do tempo ou o Delorean.




Vamos dar uma passeada pelo passado, mais precisamente no dia 2 de outubro de 2009, na pacata Copenhague, capital da Dinamarca.

A TV está ligada e há uma expectativa em torno do anúncio da cidade que sediará os Jogos Olímpicos de 2016.
O belga Jacques Rogge abre o envelope e...
Bem, você já sabe.
O anúncio do Rio de Janeiro faz atletas, dirigentes e políticos pularem que nem crianças, rirem, chorarem, se abraçarem...
A emoção da conquista também se espalha pela cidade. Depois de três tentativas frustradas saíamos vitoriosos.



Uma cidade destinada a grandes eventos: festivais de rock, JMJ, Jogos Mundiais Militares, Copa do Mundo e agora os Jogos Olímpicos.

Um futuro de sonho, principalmente se levássemos em conta a situação estável que vivia o país. A inflação de outubro de 2009 seria de 0,24%, o dólar estava cotado a R$ 1,75 e o Governo Federal tinha uma aprovação acima de 70%.

O estado do Rio vivia dos royalties do petróleo e ainda havia a promessa do pré-sal. O que poderia ser melhor?

Um grande futuro bem próximo nos aguardava....

Fim do passeio.
Embarquemos de volta para 2016.

Apenas sete anos e um 7x1 depois e quanta coisa mudou...

A tocha olímpica bate à nossa porta e a vontade que dá é de dizer que não há ninguém em casa; que ela volte depois.

Pra onde a vista alcança vemos uma cidade em obras. E agosto é logo ali...

O Comitê Olímpico garante. Tudo ficará pronto a tempo e eu me pergunto qual é a marca do tranquilizante que eles estão tomando.

As arenas, as instalações esportivas estão, mesmo, nos últimos retoques (pelo menos é o que se divulga), mas e o resto?



Teremos grandes atletas, árduas disputas, buscas por recorde, mas como é que o torcedor vai fazer pra chegar até os locais de competição?

O Metrô tenta um sprint de Usain Bolt para chegar ao Jardim Oceânico, na Barra.
E vamos dizer que chegue. Mas e a ligação com o BRT. Quem passa pelo começo da Barra da Tijuca vê o quanto ainda falta para que haja a integração entre os dois transportes.



Outro BRT, o da Transolímpica, que vai ligar os polos de competição de Deodoro e da Barra também parece longe de ser concluído, embora o portal da Cidade Olímpica garanta que, hoje (26/4/16) 80% das obras estejam concluídas.

Em sua coluna no jornal O Globo, o jornalista Marcelo Barreto, que acompanhou de perto todos os preparativos para os Jogos de Londres, em 2012, fala do principal diferencial entre o que se fez por lá e o que se faz por aqui:

“Os organizadores dos Jogos Olímpicos Londres-2012 gostavam de repetir que passaram quatro anos planejando e três construindo. Foi assim que entregaram todas as obras no prazo e dentro do orçamento. Nem tudo funcionou como prometido — ainda há instalações que não cumpriram sua função de legado, como a arena desmontável do basquete e o centro de imprensa transformado em polo de negócios. Apesar da ressalva, não houve qualquer registro de acidentes graves, falhas estruturais ou descumprimento às rigorosas regras de fiscalização das autoridades britânicas.
O Rio de Janeiro também vai entregar as instalações olímpicas dos Jogos de 2016 dentro do prazo e do orçamento — ou bem perto disso. Mas quase todas com um elemento que não se viu em Londres: a pressa.”

A pressa, já diziam os antigos, é inimiga da perfeição e, diria eu, é filha da falta de planejamento.

Exemplo maior não há do que a, pelo visto, natimorta ciclovia Tim Maia (maldade usar o nome do Síndico). Não bastasse o desabamento de um trecho, que provocou a morte de duas pessoas que plenas de boa fé se exercitavam no local, o que pudemos ver nos dias seguintes foi um show de imperícia e/ou desleixo com uma obra que fazia parte do “legado olímpico”.



Construída na pressa para se tornar um cartão postal da cidade ou, como diria o prefeito quando a percorreu poucos meses atrás, em sua inauguração, “a ciclovia mais bela do mundo”, tornou-se um mico preto nas mãos do alcaide.
Mais bela ela até pode ser, porém segura, viu-se que não.
Quem, nos próximos anos, passará pelo local e não se lembrará da tragédia? Até hoje quando passo pelo elevado Paulo de Frontin, lembro do desabamento. Se sigo em direção ao Centro pelo Aterro, me recordo da irresponsabilidade dos donos do Bateau Mouche.

Irrresponsabilidade, incompetência e ganância. Três fatores de risco que, se unidos em qualquer combinação possível, podem se tornar fatais.

Com a queda da ciclovia, o sinal de alerta acendeu nos meios de comunicação lá de fora. A ameaça da Dengue, da Zika e da Chikungunya ganharam a companhia do temor pelas condições de segurança das obras olímpicas.

Futurismo midiático? Sensacionalismo?Ou um considerável realismo?

As autoridades olímpicas se mostram confiantes. Garantem que tudo correrá bem.



Talvez para quem for assistir aos Jogos de longe tudo pareça perfeito. E espero que seja assim, para que a imagem da cidade seja, ao menos, preservada.
Mas para nós, vizinhos olímpicos, temo que a sensação não será a mesma.
Ao terminar este texto me vem à cabeça uma frase clássica carioca que diz: “Em foto, até o Canal do Mangue é bonito”.


O futuro é hoje... E que futuro...  

segunda-feira, 25 de abril de 2016

AS BELAS E AS PRESIDENTAS (DAQUI E DOS VIZINHOS)

Falam que brasileiros e argentinos são rivais.
Mas se a gente olhar de perto vai ver que estamos mais próximos do que supõe a vã rivalidade futebolística. Até porque depois que Messi, Neymar e Suarez se uniram no ataque do Barcelona, o Cone Sul passou a torcer pelo mesmo time.

O amigo e mestre Ronaldo Helal, que morou em Buenos Aires por um tempo, gosta muito de citar a seguinte frase: “Brasileiros amam odiar a Argentina e argentinos odeiam amar o Brasil”. Embora ressalte que antagonismos tenham crescido nos últimos tempos, pelo menos por parte dos hermanos, num típico caso de amor não correspondido.

Se no campo esportivo, a mídia dos dois países prefira alfinetadas e provocações, em termos políticos vem surgindo uma sintonia surpreendente. Vejamos...

A imprensa argentina bateu de frente e forte com Cristina Kirchner até sua sucessão por Maurício Macri. Os vizinhos brasileiros também caíram de pau em Dilma Rousseff, que agora pode ser trocada por Michel Temer.




Não pretendo debater as causas desses ataques, nem sua legitimidade. Deixo isso para analistas políticos, que entendem muito mais do riscado do que eu. Pretendo apenas trazer algumas curiosidades midiáticas que tenho visto por aqui.
A primeira delas me chegou através de um pronunciamento de Cristina Kirchner sobre a semelhança entre duas capas de revista, Noticias de la semana e Isto É. Em destaque os supostos ataques de fúria e descontrole das duas presidentas; de lá e daqui.




O texto da revista argentina (de junho de 2013) fala de birra, fúria e ironia sinistra para relatar atitudes intempestivas de Cristina com opositores e aliados que não a defendiam. A revista ainda questionava se Kirchner não estaria precisando de tratamento psiquiátrico.



Na coirmã brasileira (de abril de 2016) a manchete “Uma presidente fora de si” encaminha um texto com também supostas informações sobre o descontrole da presidenta brasileira. E logo em sua abertura deixa claro o que viria a seguir:

“Os últimos dias no Planalto têm sido marcados por momentos de extrema tensão e absoluta desordem com uma presidente da República dominada por sucessivas explosões nervosas, quando, além de destempero, exibe total desconexão com a realidade do País. Não bastassem as crises moral, política e econômica, Dilma Rousseff perdeu também as condições emocionais para conduzir o governo.”



A reação foi grande nas redes sociais. Com a hashtag #IstoÉMachismo a reportagem se tornou um dos assuntos mais comentados naquela semana. As críticas, principalmente de grupos feministas, eram de que a matéria reforçava o estereótipo machista que relaciona as mulheres ao descontrole emocional, e que, por isso mesmo, não estariam aptas a assumir cargos políticos e de liderança.

A presidenta emitiu nota oficial sobre a reportagem e prometeu medidas judiciais contra a publicação:

“A frase é conhecida: 'Na guerra, a primeira vítima é a verdade'. A autoria é controversa, mas a aplicação tem sua vertente diante de crises políticas mais agudas. A revista Isto É tem se esforçado para trazer a máxima ao presente, sombrear o quanto pode a verdade e jogar na lata do lixo da história qualquer rastro de credibilidade que um dia já teve.”

Recentemente outra dessas “coincidências” mais uma vez ligou as imprensas argentina e brasileira.

Tema que mais movimentou as redes sociais na semana passada, a reportagem escrita pela jornalista Juliana Linhares para a revista Veja e intitulada “Bela, recatada e do lar”, teve uma “irmã gêmea” do outro lado do rio da Prata.




A matéria escrita por Juliana para descrever a possível futura primeira dama brasileira, Marcela Temer, traçou um perfil da jovem dona de casa que pode trocar o Palácio do Jaburu pelo Palácio da Alvorada. Um texto intrigante já que a moça, alvo do perfil, não foi ouvida, só pessoas próximas a ela. Na verdade, parágrafos e mais parágrafos que pareciam saídos de outra publicação da empresa, a revista Capricho (como agora é apenas online, não sei se ainda posso classificá-la de publicação).

Mais uma vez a mulherada brasileira fez barulho quanto ao caráter machista da reportagem e desandou a colocar fotos de “belas, recatadas e do lar” na Rede. Até ícones dos anos 80 como Rêbordosa, de Angeli, reapareceram para protestar.



A matéria da Veja lembra bastante uma outra reportagem da Noticias de la semana, só que sobre a primeira dama argentina (publicada em março de 2016). O título: “Estilo Awada Macri – O regresso da mulher decorativa”.



Ainda na capa segue um texto síntese do que esperava o leitor nas páginas internas:

“Deixou tudo para acompanhar Macri. Representa o estereótipo da esposa tradicional e discreta e a serviço do lar. O contramodelo K.” (K se refere a Kirchner)”

Ou seja, outra bela, recatada e do lar.

A reportagem pelo menos tem o mérito de ter aspas da personagem.

E para por um pouco mais de pimenta nessa história, neste final de semana o jornal O Globo também fez um perfil de Juliana Awada Macri. O texto de Janaína Figueiredo vai, no entanto por outro viés, já a partir do título: “Um perfil político para a mulher de Mauricio Macri - Juliana Awada se inspira em Michelle Obama em busca de um papel mais moderno”.

Sim, creiam, se trata da mesma mulher da matéria da revista argentina. Aquela que dizia que preferia cuidar da casa, das refeições e dos filhos.

Só que de acordo com a percepção da repórter de O Globo pode haver um quê de coaching nesse perfil exposto pela primeira dama vizinha; um tipo de “Obamização”. Ou seja, forjar em Juliana uma imagem semelhante à de Michelle.



Em tempo: Janaína tentou entrevistar Juliana Macri, mas foi barrada pelos assessores.

Será que por aqui também se pretende algo assim?
Esperemos pelos próximos capítulos. Afinal, ao contrário do caso argentino, aqui a faixa ainda não está no peito do marido.


Embora a mídia assim queira, e muito...

 

quarta-feira, 20 de abril de 2016

GRAN CIRCO CUNHA


No último domingo, por ossos do ofício, tive que acompanhar toda a votação do prosseguimento do processo de destituição da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Mas esta postagem não vai ser apenas para lamentar as lamentáveis performances de suas excelências. Isso já foi bem batido nos últimos dias.
Gostaria, no entanto, de convidá-los a uma breve análise de algumas das causas; do que leva nossa Câmara a ser essa “vergonha alheia” que vimos.



Um fato curioso daquele dia, na redação da TV Brasil, onde trabalho, era a expectativa pelo voto do deputado Tiririca (PR-SP) e explica-se: em meio a toda aquela palhaçada, estávamos curiosos para saber como seria o voto de um palhaço de ofício. O “sim”, no entanto, soou como um anticlímax. Esperávamos pela piada, pelo voto no “não”.
O voto de Tiririca, diga-se de passagem, não teve nada de estrombólico como o da enorme maioria de sus colegas.

Veja a montagem feita pela Mídia Ninja: https://www.youtube.com/watch?v=98oJ5PD_Lac



Mas Tiririca tem uma boa parcela de culpa pelo que se viu naquele circense domingo. Ele e outros grandes “puxadores de votos”.
Tiririca, com sua votação, garantiu mais dois deputados para seu partido.
Celso Russomanno, com 1.524.361 de votos obtidos, garantiu a vaga dele e de mais quatro candidatos do PRB-SP.
Jair Bolsonaro (PP-RJ), com 464.500 votos, junto com Eduardo Cunha (PMDB), que recebeu 232.708 votos, ajudou a eleger também outros 17 nomes da coligação PMDB/PP/PSC/PSD/PTB. Entre eles Marco Antonio Cabral, filho de Sérgio Cabral, ex-governador do Estado.



Por essas e outras, apenas 36 candidatos a deputado federal foram eleitos por voto direto e nominal em 2014. Os outros herdaram votos.
A culpa é do chamado quociente eleitoral, uma conta que determina quantos votos são necessários para que um deputado se eleja.

A regra proporciona que deputados com uma mínima representatividade cheguem ao poder legislativo federal e gera discrepâncias. Graças a essa lógica o advogado Fábio Pinato (PRB-SP), por exemplo, conseguiu uma vaga no Câmara com pouco mais de 22 mil votos, enquanto Antônio Mendes Thame (PSDB-SP) não foi reeleito apesar dos mais de 106 mil votos.

Para melhor aproveitar a regra do jogo, os partidos também se aproveitam dos incautos, como explica o Mestre em Direito Processual da Uerj, Iorio Siqueira D'Alessandri Forti:
“Outra tática comum nos partidos mais toscos é oferecer centenas de candidatos inexpressivos em um mesmo Estado, como “Joãozinho do açougue”, “Manoel pipoqueiro” ou “Mariazinha enfermeira”, que atraem uns dois mil votos dos vizinhos/clientes para, ao final, conseguir eleger um ou dois caciques que, com suas próprias forças, não seriam eleitos. Por isso, de nada serve o discurso de “eu não me interesso pelo partido, só quero saber da pessoa em quem estou votando”. Cabe a cada um fiscalizar a coerência programática do partido, porque o voto dado a Fulano pode servir para eleger somente Beltrano.”

O abuso do poder econômico em campanhas milionárias é outro fator que explica a “fauna” de nossa Câmara.
Vários parlamentares são investigados por conta da omissão dos reais valores gastos para convencerem eleitores. Dinheiro que, na maioria das vezes não sai de seus bolsos e sim dos bolsos de “doadores”. Mas sabemos que, na verdade, tais doações soam melhor como “investimentos”. Ou seja, um grupo econômico financia um político para que ele defenda os seus interesses no Congresso Nacional e não necessariamente os interesses dos eleitores.



Mais um detalhe: 38 deputados federais eleitos em 2014 respondiam a processos na ocasião da posse (26 votaram sim no processo de Impeachment, 10 votaram não e 2 nem votaram).

A preocupação apenas com os interesses dos financiadores de campanha e não com os da população de modo geral poderia, quem sabe, explicar o grande número de ausências nas sessões plenárias deliberativas.
Em 2015, só 4% dos parlamentares (cerca de 20) compareceram às 125 sessões com presença obrigatória.
Alegando questões de saúde, houve deputado que faltou a mais de 100 desses sessões, sem qualquer risco de cassação, pois atestados médicos são aceitos como justificativa de ausência.
Porém, o número de faltas não justificadas espanta. Guilherme Messi (PP-SP) não compareceu a 30 sessões sem nada explicar. Já Edmar Arruda (PSC-PR), “matou” 25 sessões, também sem qualquer justificativa.

Pense comigo: o que seu patrão faria caso você faltasse 25 ou 30 dias durante o ano sem qualquer explicação?
Mas o patrão deles, ou seja, o povo brasileiro, é bonzinho, não faz nada.
Os dois já estão no segundo mandato.

Dos 30 maiores faltosos da Câmara, 20 votaram pelo afastamento da presidenta e 10 pela sua permanência.

Hoje existem 35 partidos políticos no Brasil e outros 20 podem vir por aí. A política, como se vê, parece ser extremamente sedutora.
Uma saída seria uma ampla reforma política, mas isso teria que passar pelo Congresso Nacional.
Você, em sã consciência, acredita que deputados e senadores que lá estão vão querer atentar contra o próprio status quo?



Também existe a questão da influência cada vez maior da religião na política (mas isso vale uma postagem só para o tema) e outros fatores que podem explicar o festival de bizarrices que vimos, como a tradicional e tacanha teatralidade do político brasileiro ou a oportunidade dos 30 segundos de fama em rede nacional. Mas o fato é que a população brasileira pôde se confrontar com sua criatura.
Sim, porque somos nós que os colocamos lá.
Somos nós os maiores responsáveis.

Será que a vergonha causada por aquele grotesco espetáculo fará com que as pessoas prestem mais atenção na hora de votar, que levem o ato do voto mais a sério, ou nossa democracia é tão frágil assim que não conseguiremos jamais ter um poder legislativo competente?

Parafraseando e adaptando a letra da música Índios do Legião Urbana, “nos deram espelhos e vimos um Brasil doente”.
O que faremos daqui pra frente é o que nos resta decidir.




segunda-feira, 18 de abril de 2016

JAIR E O CUSPE

Jair levou uma cusparada de um colega.
Ele poderia ter ficado furioso por isso, mas no fundo, creiam, achou ótimo.
Sabe que, por conta disso, mais uma vez estará nos jornais, nas rádios, nas TVs...
Nas mídias sociais simpatizantes e contrários garantirão sua enorme visibilidade. E Jair adora isso.

Todo país do mundo tem eleitores de extrema-direita, ou que pelo menos se acham de extrema-direita. Muitos não sabem ao certo do que se trata, mas acreditam piamente que o melhor remédio para resolver os problemas é a intimidação e, se preciso, a porrada.
Todo país do mundo tem representantes políticos dessa gente. E Jair descobriu que esse poderia ser o seu nicho.

Ainda na caserna buscou visibilidade como defensor da classe militar. Reivindicava melhores salários e a maior valorização da tropa. Foi denunciado ao planejar protestos explosivos (ao pé da letra) contra o próprio Exército, mas não chegou a ser condenado.
Com essa pauta e com a da defesa de pensionistas da Forças Armadas decidiu entrar na política. Nada mais justo do que a classe ter um representante de seus direitos no Poder Legislativo.
Mas Jair viu que poderia ir além.

Percebeu que na retomada do processo democrático do país, a direita estava acanhada, quieta, esperando a poeira baixar. Optou, então, por ser a voz dissonante; ser o arauto do conservadorismo; dar a cara a tapa, sem o menor temor de ser taxado como reacionário.
Na verdade era isso que ele queria.

O discurso em defesa do Golpe Militar de 1964 dá a falsa impressão de que Jair participou da Ditadura (e ele acha isso ótimo). Mas na verdade, quando estourou o Golpe, Jair tinha acabado de completar 9 anos. E só se formou na Academia Militar quando a abertura política já se desenhava. Seu primeiro cargo eletivo foi conquistado quando ele tinha pouco mais de dez anos de farda. Sua breve história nos quartéis lhe garantiu, ao menos, a patente de capitão, que foi mantida na vida civil. Era ela que garantiria sua imagem de linha-dura para o público em geral.

Pulando de partido em partido (foram 8 trocas), Jair foi construindo sua imagem.
Misoginia, xenofobia, homofobia, ofensas, desrespeito à ordem democrática.
Não importava o tema. Jair sempre buscou o lado polêmico.
Sabia que a cada bravata, a cada frase polêmica, teria garantido seu espaço na mídia.
Ser do contra passou a ser o seu papel.
Estatuto do desarmamento, contra.
União homoafetiva, contra.
Cotas, contra.
Reforma agrária, contra.
Sociedade laica, contra.

Com a postura Jair passou a arregimentar cada vez mais simpatizantes e, melhor (para ele), polarizou as atenções. Se tornou o principal nome da direita no Brasil.

A bem armada estratégia fez com que seu sobrenome se tornasse uma “franquia” eleitoral.
Os três filhos e até a ex-mulher se elegeram. Um clã que bate na mesma tecla do patriarca; extremamente teatral e muito bem ensaiado.

Portanto, meus caros, quando Jair vai à frente de um microfone e elogia o chefe da gangue parlamentar ou faz uma ode a um dos mais cruéis torturadores do Regime Militar, não o faz como um arroubo impensado, ou como um desabafo de suas crenças.
A pantomima é apenas mais um ato da construção de sua imagem asquerosa.

Hoje será assunto central.
Hoje se digladiarão defensores e detratores.
Hoje sua foto estará estampada por todo lado. Bem como Jair queria.

A fala será guardada e usada mais tarde, para lembrar a seus eleitores como ele pode representá-los com firmeza; que é o bastião da resistência contra “forças subversivas que querem trocar o verde e amarelo de nossa bandeira pelo vermelho”.

O que fazer com um sujeito assim? Difícil dizer.
Talvez a melhor maneira de atingi-lo seja não lhe dar visibilidade desnecessária.
É claro que é duro ficar calado ao ouvir as coisas absurdas que ele fala. Declarações dignas de náuseas. Mas Jair continuará a fazê-las, pois foi assim que conseguiu ser o campeão de votos em seu estado; ser chamado de mito.

Dizem que pretende, inclusive, se candidatar à presidência. Não porque creia que tenha alguma chance de vitória (de ingênuo não tem nada), mas porque assim ganhará ainda mais projeção no pobre cenário político nacional. Ele e seu clã.

Ou seria melhor dizer matilha?


sexta-feira, 15 de abril de 2016

AO DEUS DARÁ


Búzios, tarô, I Ching, quiromancia, bola de cristal...

Se acreditasse em algo assim já teria me dirigido a algum guru de plantão que pudesse acalmar meu espírito, que pudesse me dizer o que o amanhã nos preserva. E acho que mesmo que ele confirmasse os maus presságios que pressinto seria melhor do que conviver com as dúvidas, ou pior, as quase certezas, sobre o que o futuro nos reserva.

Fico lembrando de um passando recente e que agora nos parece tão distante. Lembrando da ilusão de que mesmo através de caminhos tortuosos estávamos indo na direção certa. Pelo menos essa era a nossa esperança. Esperança de que finalmente tínhamos acertado o rumo, de que a bússola nos indicava mares mais tranquilo. Tínhamos a impressão de que não haveria mais retorno.

Porém, ai porém...

A calmaria não passou de uma falsa ilusão. Hoje nota-se que se tratava de uma vitória de Pirro; uma conquistaa obtida a alto preço, mas que gerou prejuízos irreparáveis. A base que nos mantinha era lodacenta e em nenhum momento se buscou solidificá-la. Achou-se que bastava jogar a regra de um jogo viciado e estabelecido há muito, muito tempo. Paga-se, hoje, o preço por isso.

Que oportunidade perdemos..

Chorar sobre o leite derramado não deveríamos, afinal é assim que determina o dito popular, mas não há como não lamentar. Lamentar os lamentos que estão por vir. Lamentar as portas que vão se fechar, as pontes que irão ruir.

Meia volta, volver.

Pessimismo? Sim, total. E, a meu ver, bastante justificado.
Quando o sonho vira pesadelo e o pesadelo se torna realidade, fica muito difícil visualizar qualquer aspecto positivo

Não tenho a mínima ideia do que irá acontecer.
Haverá resistência? Não Sei.
Aceitaremos resignados? Não sei.
Como não sei, também como iremos revitalizar nossos ideais.
É como se num jogo de tabuleiro tivéssemos tirado uma carta que nos obrigasse a voltar ao início. Uma longa trajetória que, espero, novas gerações possam ajudar-nos a percorrer.
O caminho não será fácil.

Se estou disposto a recomeçar?
Sempre


quinta-feira, 14 de abril de 2016

REESCREVENDO O LIVRO DOS RECORDES


Que a noite seria histórica todos já sabiam, mas só nas previsões mais otimistas poderíamos agregar tantas marcas em apenas uma rodada da NBA.


O Mamba Day, dia da despedida de Kobe Bryant depois de 20 anos com a camisa do Los Angeles Lakers já seria suficiente para emocionar qualquer fã do basquete. Porém, o que o sujeito fez em sua última partida foi demais. Kobe esteve em quadra durante 42 minutos dos 48 possíveis, muito mais do que vinha suportando nos últimos jogos. Fez 60 pontos, recorde na temporada e ainda se tornou o jogador mais velho a conquistar essa marca. Fez, nada mais, nada menos do que 23 pontos no último quarto e ajudou o Lakers a tirar uma vantagem de 15 pontos do Utah Jazz a cinco minutos do final. Quando o tempo zerou o placar mostrava uma improvável vitória do time de L.A. por 101 a 96 (esta foi a pior temporada da história da franquia com apenas 17 vitórias). O Staples Center, que com certeza bateu todos os recordes de decibéis de um torcida da NBA, ovacionava o número 24 do Lakers. Era o ato final de uma lenda das quadras. E que ato.



No canal ao lado, a um clique do controle remoto, jogavam Golden State Warriors e Memphis Grizzlies, outra partida que também tinha tudo para entrar para a história. Um triunfo garantiria ao time de Oakland o recorde de 73 vitórias e apenas 9 derrotas na temporada regular (a marca anterior era do Chicago Bulls com 72, em 1995/96). Desde o início ficava clara a superioridade do time da casa que de cesta de 3 em cesta de 3 foi abrindo vantagem. E por que destaco isso? Pelo simples fato de que a equipe se tornou a recordista de cestas de 3 pontos convertidas em uma temporada: 938 (média de 9 por jogo)!!!!! E, pasmem, 402 foram arremessadas por um único jogador: Stephen Curry (quase 5 por jogo), sendo que em uma única partida ele converteu 12 – 36 pontos só em cestas de 3). Mais um recorde quebrado. O anterior era dele mesmo, 288. Para que a temporada seja perfeita, no entanto, é preciso passar pelos playoffs e conquistar o bicampeonato.



E por último, mais um recorde igualado ontem. O San Antonio Spurs, segundo melhor time da temporada até agora, conquistou sua 40ª vitória em casa das 41 possíveis (só perdeu na penúltima partida para os Warriors). Até hoje só o Boston Celtics de 1985/86 tinha conseguido vencer tanto em sua própria quadra.



O Warriors, com 73 vitórias ao todo, e o Spurs, com 67, foram muito superiores ao resto da turma. Quem chegou mais perto foi o Cleveland Cavaliers, com 57. Mas não dá pra aproveitar a fama e deitar na cama. Nos playoffs tudo pode mudar. Vamos a eles!

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O REI, O HERDEIRO E O TRONO VAGO


Meninos, eu vi.
Vi Michael Jordan jogar.
Infelizmente apenas pela TV.
De lá pra cá vi muitos outros grandes jogadores de perto como Magic Johnson, Patrick Ewing, Karl Malone, Kevin Durant e Stephen Curry, por exemplo.
Mas Jordan, o Air Jordan, só vi pela TV. E nem eram os tempos da TV digital, full HD. Era sinal analógico mesmo. Mas isso era o de menos. Ver o cara jogar valia a pena.

Naquela época eram poucas as partidas transmitidas pela TV. Uma por semana, às sextas à noite. Compensava através do NBA Action, onde seus melhores lances apareciam invariavelmente no Top 10 da semana.
Também comprava fitas VHS da NBA para me deliciar com jogadas espetaculares não só dele, mas também de outras grandes feras.

Nos Jogos Olímpicos de 92 acompanhei todas as partidas do Dream Team (1º e único).



A final entre Bulls e Phoenix Suns, capitaneado por Charles Barkley, em 1993 talvez tenha sido a mais empolgante de todos os títulos de Jordan pelo Chicago (foram seis ao todo).
A série foi vencida por 4x2, mas todos os jogos foram muito equilibrados. A partida número 3, vencida pelo Suns, na casa do adversário, teve 3 prorrogações. Eu trabalhava no Bom Dia Rio nessa época e tinha que levantar de madrugada, mesmo assim não conseguia desgrudar os olhos da TV.
Só nessas seis partidas Jordan fez 246 pontos, uma média de 41 pontos por partida.



Depois disso ele parou. Foi jogar beisebol.
Voltou e foi mais uma vez tricampeão.
Parou de novo e voltou mais uma vez, então para o Washington Wizards.

Desde sua aposentadoria sumiu da mídia e hoje é o dono do Charlotte Hornets, da Carolina do Norte. Embora nascido no Brooklyn, em 17 de fevereiro de 1963 (exatamente um mês antes de mim), foi pela Universidade da Carolina do Norte que ele assombrou o país e mostrou que seria o maior jogador de basquete de todos os tempos.



Depois que Pelé parou de jogar, várias promessas de "novos Pelés" surgiram no Brasil, só que Pelé, assim como Jordan é único. Nos EUA se deu o mesmo. Vários jogadores surgiram como "novos Jordans", mas apenas um dele pode-se dizer que chegou perto da importância do camisa 23 dos Bulls. Seu nome: Kobe Bryant.


Porém, hoje, com a aposentadoria de Kobe, o trono estará novamente vago.

Kobe, ao contrário de Jordan, pulou a universidade, foi "draftado" em 1996 direto do High School e, aos 18 anos, chegava ao Los Angeles Lakers, time pelo qual jogaria toda sua carreira. Tem nada menos do que cinco títulos da NBA, participou do All Star Game, partida que reúne os melhores da liga, em 17 ocasiões. É o terceiro maior pontuador da história da NBA (pode superar a marca de 33.600 na partida de hoje). Foi bicampeão olímpico.



No jogo contra o Toronto Raptors, em 2006, fez nada menos do que 81 pontos. Ele só perde para os 100 pontos de Wilt Chamberlain, em 1962.

Durante todo esse ano, Kobe veio recebendo homenagens em suas últimas exibições em cada arena dos Estados Unidos. A mais emocionante delas talvez tenha sido na partida contra o Hornets, em Charlotte. Antes da partida, Michael Jordan apareceu no telão e mandou uma mensagem para o amigo.

                                    https://www.youtube.com/watch?v=s2wWH4YSKHk



Hoje à noite, no Staples Center (com transmissão da ESPN), as homenagens também serão muitas e não há como não ser desta forma.
Só é uma pena que ele não esteja na seleção americana que vai disputar os Jogos Olímpicos aqui no Rio, este ano. Mas bem que o Comitê Olímpico poderia convidá-lo para a entrega da medalha de ouro. Fica a sugestão.

Kobe merece.



E não deixem de assistir ao vídeo "The Conductor"
https://www.youtube.com/watch?v=qQYz0I5dE_A&nohtml5=False

terça-feira, 12 de abril de 2016

DE OLHO NO "DESCONFIÔMETRO"

Noutro dia, minha querida amiga Dadi Mascarenhas me mostrou, via Facebook, uma notícia sobre um suposto atentado durante uma manifestação pró-Impeachment. Um grupo de esquerda teria incendiado um automóvel com uma família dentro só porque o carro tinha um adesivo contra o governo. A notícia era de um falso site noticioso chamado A Folha do Brasil e mostrava, inclusive, uma foto do carro em chamas. No texto, detalhes sórdidos como o que narrava o apelo do pai para que ao menos a esposa e o filho fossem poupados. Pura balela, mas, infelizmente, uma balela retransmitida por aqueles que achavam que se tratava de um fato real. Ou pelos que mal intencionadamente decidiram fazê-lo, mesmo sabendo que era uma notícia falsa. Vejam o texto na imagem ( o mesmo foi retirado do ar, mas resgatado graças ao cache).



Numa breve busca na Internet encontrei uma notícia que pode ter sido a fonte “inspiradora” dos boateiros. No dia 11 de março três pessoas morreram, em Sergipe, depois que um caminhão bateu em 11 carros parados na BR-101 devido a um ato do MST. Sete carros pegaram fogo e três vítimas, um homem, uma mulher e uma criança morreram carbonizadas. A foto também não foi difícil de localizar. Trata-se de um carro incendiado em um dos protestos de 2013, ao lado do prédio da Assembleia Legislativa do Rio.


Boatos virtuais são cada vez mais comuns. Vejam o que aconteceu com Chico Buarque de Hollanda. Alguém fez uma edição do DVD Desconstrução no qual Chico, por conta da faixa “Ahmed- a máfia da composição” brinca dizendo que não compõe e sim compra as músicas que grava. A montagem deu um falso contexto às falas com o intuito de denegrir o cantor, que apoia abertamente o governo. E o pior e que muita gente acreditou e compartilhou.




Assim como foi muito compartilhada a informação de que a ministra do STF Rosa Weber seria prima da esposa de Aécio Neves e que por isso estaria eticamente impedida de se envolver nas votações sobre o Impeachment. A postagem também dizia que o filho dela trabalharia na Rede Globo. Duas informações falsas.



O bang-bang virtual promovido pela crise que vivemos ajuda a propagar um péssimo hábito, o da falta de uso do “desconfiômetro”. Muita gente compartilha postagens sem ao menos ler sobre o que se trata. Se a manchete é a favor de suas convicções dão um clique e, pronto, o post segue sua trilha Internet adentro. Outros até leem, mas não checam. Acreditam piamente. Não importa se aquilo atenta contra a honra de alguém ou se alimenta ódios. E não pode ser assim. Toda notícia tem uma fonte e com o acesso a uma ferramenta de busca básica como o Google é muito simples checar de onde partiu aquela informação. Num mundo tão globalizado, conspirações, vazamentos, furos são cada vez mais difíceis de acontecer e, se acontecem, logo ganham repercussão em órgãos de comunicação.

Não quer dizer que jornais sejam 100% confiáveis (longe disso!!!), mas têm mais responsabilidade na apuração (pelo menos deveriam ter). Embora se falarmos de tabloides, por exemplo, isso não seja regra. Vejam a notícia de que a atriz Angelina Jolie teria sido internada em estado grave pesando apenas 35 quilos. A capa do jornal sensacionalista National Inquirer dizia também que (vejam só) o câncer estaria “comendo” a atriz viva e que, além de anorexia, Jolie também estaria paranoica. Imaginem quantos milhões de compartilhamentos essa capa teve ao redor do mundo? Imaginem como isso atinge uma pessoa, mesmo se ela for uma celebridade “acostumada” a esse tipo de coisa. O jornal afirma que as informações vieram de fontes do hospital. As tais fontes anônimas, por sinal, se tornaram uma licença para o mau jornalismo.



Fontes são importantíssimas para um jornalista. São elas que mostram a porta de entrada para investigações que nem teriam nascido caso anônimos (pelo menos para o público em geral) não revelassem algum conteúdo sigiloso. Mas só o depoimento de uma fonte não é uma matéria. A reportagem deve partir da informação e não morrer nela. Dou como exemplo o filme “Conspiração e poder” (prefiro o título em inglês “Truth”, que quer dizer verdade). Sem spoilers digo apenas que a produtora executiva de um dos mais consagrados programas jornalísticos da TV americana se deixou levar por uma fonte e sem a apuração correta pagou um peço muito alto. Prova de que o bom jornalismo não se faz com pressa. O filme é baseado numa história verídica envolvendo o âncora Dan Rather e o ex-presidente americano George W. Bush.



E pra finalizar, ainda falando de fontes, chegamos ao caso dos Panama Papers. Uma quantidade descomunal de documentos de uma firma de advocacia com sede no Panamá especializada em abrir offshores, empresas capazes de esconder dinheiro ilegalmente obtido. O escândalo envolve de líderes mundias a empresários, passando por diversas outras atividades que geram muito dinheiro, legal ou não. A denúncia em forma de vazamento chegou ao jornal alemão Süddeustche Zeitung que, incapaz de lidar com o volume gigantesco de informações, buscou ajuda junto ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. O vazamento já foi anunciado, porém o trabalho está longe de acabar e envolve mais de 300 jornalistas de todos os continentes, excetuando o Antártico. Jornalistas que souberam manter o embargo coletivo até o dia da divulgação conjunta e que ainda podem, com muita checagem, com muito cruzamento de dados, com muitas entrevistas trazer informações ainda mais relevantes sobre o tema. 



A coluna de Dorrit Harazin no O Globo do último domingo dá todos os detalhes da ação jornalística.





Seja no jornalismo profissional, seja no mero compartilhamento de notícias nas redes sociais, a responsabilidade tem que dar o tom. O Facebook é uma grande ferramenta para a propagação de informações, desde as mais banais até as mais relevantes, mas não faltam arapucas. Porém, com um pouco de bom senso e olho no “desconfiômetro” dá pra escapar de todas elas.