quinta-feira, 25 de junho de 2015

FAMOSOS: VIVOS OU MORTOS (2)



Hoje recebi uma sugestão de leitura enviada pela Juliana Viegas. Trata-se de um artigo do El Pais afirmando que Cristiano Araújo, o cantor sertanejo morto ontem e que ocupou boa parte da programação das TVs brasileiras era, sim, uma celebridade.
De acordo com o artigo, ele possuía seis milhões de seguidores nas redes sociais, o que, com certeza é um dado relevante.




O texto que, inexplicavelmente, não é assinado, embora bastante opinativo, afirma que aqueles que não conheciam Cristiano Araújo (e não Ronaldo) vivem numa bolha onde apenas habitam velhos ícones da MPB ou sucessos do pop internacional. Ou seja, não conhecem o Brasil em que vivem...
Concordo que existe muita gente boa por aí que ninguém conhece, simplesmente porque não há espaço na mídia formal. Noutro dia fui ver o show de um excelente grupo vocal chamado Ordinarius e que só conheci graças à postagem de alguém no FB (eles têm fanpage, caso alguém queira conhecer). Existem cantores e compositores regionais que jamis alcançam a grande mídia e, mesmo assim, sobrevivem com o que a música lhes provê.
Lembro dos tempos em que trabalhava na TV Manchete (há um quarto de século) e recebia um impresso com oferecimento de shows de duplas sertanejas e grupos regionais dos quais jamais havia ouvido falar, mas que conseguiam o ganha-pão em festas, clubes e ginásios país afora.
Hoje, o cenário mudou muito. 
Venda de CD não dá mais o lucro que dava antes. São os shows que sustentam muitos artistas. A música quando não é consumida através de downloads sem custo, pode ser comprada online. 



O público das grandes mídias tradicionais também mudou radicalmente.
Vamos pegar a TV como exemplo, já que numa emissora trabalho. 
A TV aberta tem cada vez menos audiência nos grandes centros urbanos. O cabo, o satélite, a internet, tudo isso roubou telespectadores. Em compensação, o mercado ganhou novos segmentos consumidores , aquele que a própria imprensa chamou de nova classe média. Um segmento que a mídia, até bem pouco tempo elitizada, tenta alcançar, agora, de toda forma. O público do interior do Brasil também se tornou alvo, já que tem uma oferta de conteúdo televisivo bem menor do que as grandes capitais.
Na teledramaturgia isso fica claro. Núcleos das novelas têm, cada vez mais, comunidades carentes ou cidades pequenas como seu habitat.





Na música se dá o mesmo. 
O gosto musical desses dois segmentos passaram a ser o carro-chefe. 
O funk e o sertanejo estão aí pra não me deixar mentir. Anitas, Mcs Ludmilas, Victores, Léos e Michéis Telós brilham na mídia televisiva e radiofônica. 
Uma coisa vai puxando a outra como o cachorro que corre em busca do próprio rabo.
Você pode gostar, você pode não gostar, mas é o que temos para hoje. E enquanto as gravadoras estiverem mantendo seus lucros, nada mudará.
Apesar de todas essas colocações, contudo, continuo achando absurdo o tempo dispensado pelas TVs para o caso da morte do sertanejo, mesmo ele tendo os tais seis milhões de seguidores.
As medições do IBOPE minuto a minuto evidentemente sustentaram a decisão das emissoras, que foram esticando, esticando, esticando o assunto, até não poderem mais. Uma atitude que parece até título de filme antigo: “Os caçadores dos pontos (de audiência) perdidos.





Sem medo de ser taxado como integrante da “bolha cultural”, opino: carregaram na tinta.
E digo mais: farão de novo.

FAMOSOS: VIVOS OU MORTOS







Não sou fã de sertanejos. Universitários só conheço aqueles para quem dou aula. Portanto não me espantei de não saber quem era o cantor tão nacionalmente famoso que tinha morrido em um acidente de carro. 
Ou será que ele não era tão famoso assim???
Claro que era! Não era?




As TVs (inclusive a Globo) ficaram horas repercutindo o caso.
Isso só se faz quando alguém de enorme expressão na vida nacional morre. Portanto não há do que reclamar... Ou há?
No afã de repercutir o caso, Globo e Record mataram até o craque português Cristiano Ronaldo. 



Aliás, se fosse o CR7 que tivesse morrido, qual seria a repercussão?
É como diz o ex-aluno e, hoje, colunista de TV, Fernando Borges: "Se a Globo cortou a 'Sessão da Tarde' para fazer a cobertura da morte do Cristiano Araújo, imagina quando morrer o Roberto Carlos? Vai ser um mês inteiro de especiais com as mesmas músicas."
PS: Se eu fosse o portuga, passava numa rezadeira.

domingo, 21 de junho de 2015

TRISTES EXEMPLOS

Vivemos tempos muito difíceis. Ou tempos irracionais , como bem classificou Gilberto Scofield Jr. no FB.
Tempos de intolerância e de total desrespeito com a opinião do contrário, com suas crenças, com seus pensares...
Só hoje surgiram mais dois exemplos. A grotesca pichação com ameaças ao apresentador Jô Soares pelo "pecado mortal" de ter feito uma entrevista com a presidente Dilma, e o assassinato de um médium dentro de um centro espírita, no Rio de Janeiro. 



E por que, de repente, esse clima de intolerância cresceu tanto?
Me parece que tem gente se aproveitando do clima de instabilidade do país para insuflar radicalismos e isso é perigoso demais...
A História está aí para não nos deixar esquecer.
Não consigo deixar de me espantar ao ver parlamentares cantando "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" ao aprovarem a redução da maioridade penal numa comissão do Congresso.



Me choca ler que uma menina que já tinha sido apedrejada pelo simples fato de frequentar um centro de Candomblé, ainda ser ofendida moralmente ao ir na delegacia fazer exame de corpo de delito.



E me envergonha ver um marmanjo, cheio de marra, casaco camuflado e bonezinho com bandeira do Brasil humilhar dois haitianos que estão legalmente no Brasil por "acreditar" que eles fazem parte de uma tática de infiltração de estrangeiros para um golpe comunista no país.



Tudo bem, existe a catarse, mas ela não é gratuita, e sim provocada.
Grupos adeptos do "quanto pior melhor" acreditam que, dessa forma, podem se favorecer mais adiante.
O que não dá é aceitar tudo isso como se fosse normal.
Não é possível ficar calado diante de tantos exemplos de intolerância, até porque eles podem gerar reações contrárias e aí o bicho pegaria de vez.
Desculpem a citação "lugar comum", mas ao pensar em tudo o que está acontecendo, o texto de Bertold Brecht, em "No caminho, com Maiakowski", não me sai da cabeça.
"Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."

quarta-feira, 10 de junho de 2015

XÔ, CENSURA!





O STF acaba, hoje, com a obrigatoriedade de autorização para que se publique uma biografia. 
Já escrevi duas, ambas com a conivência das famílias. 
Na primeira sabia que não teria dificuldades, afinal era a minha própria família. Programa Casé: o rádio começou aqui conta a trajetória de meu avô, pioneiro da rádio e da TV no Brasil. 




Na segunda, graças a Deus, nenhum problema também. A família de Waldyr Cardoso Lebrego, o Quarentinha, foi extremamente solícita e os depoimentos de Dona Olga, a viúva e de todos os filhos, só enriqueceram o livro O artilheiro que não sorria.



Só são biografadas personalidades que despertam interesse do público e, por isso mesmo, é absurdo cercear o direito de se contar essa história.
Podem surgir livros caluniosos? Claro que sim, mas para isso existem os tribunais e o bom senso dos leitores.
O que não se pode esperar, no entanto, é que biografias sejam louvações ou canonizações de seus protagonistas. Todo ser humano tem suas qualidades e defeitos, todos acertam e erram. E se é para contar uma história, não dá para ser parcial, sob o risco do descrédito da obra.
Quem venham mais e boas biografias por aí.
Salve a liberdade de expressão, sempre!

MARIPOSAS (QUE NÃO SÃO AS NOSSAS)



Liberdade para as borboletas (MARIPOSAS EM ESPANHOL). Este poderia ser o slogan do Parque das Cataratas em Puerto Iguazu, Argentina. Nunca vi tantas em um só lugar. Sem qualquer cerimônia elas pousam em você e pegam carona enquanto a gente caminha pelas trilhas.
Se um dia for visitar as Cataratas, não deixe de visitar o lado argentino. E divirta-se com essas companheiras de viagem.








terça-feira, 9 de junho de 2015

A CEGUEIRA DA INTOLERÂNCIA

Tolerância.
A palavra apesar de toda sua complexidade, deveria ser de simples compreensão.
Tolerância, no popular, significa basicamente o seguinte: seja como você é e aceite as pessoas como elas são.

Mas como tem sido difícil para a sociedade moderna aceitar algo tão simples.
A todo momento pululam bate-bocas sobre o tema. Religião, homossexualidade e racismo lideram o ranking com folga.

Nem bem terminou a marola provocada pelo "beijo gay" entre as personagens das atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Thimberg, surgiu a polêmica da "propaganda gay" da Boticário para o Dia dos Namorados" e antes mesmo do assunto esfriar, surge o "escândalo" da transexual que participou da Parada Gay de São Paulo "crucificada".


O último caso promete ainda muito bafafá já que além da questão sexual, também envolve a questão religiosa, ou seja, nitroglicerina pura (pelo menos para aqueles que se sentem atingidos).
Não que a imagem da cruz já não tenha sido usada de várias formas, em vários contextos e sem tanto ou qualquer alarde. Mas dessa vez era um GAY!!!!!!!



A intenção era chocar. E o objetivo foi plenamente alcançado.
Apelação? Agressão gratuita? Viadagem? Nada disso...
Independente da forma escolhida para o protesto, ele é válido, pois denuncia a violência contra a comunidade LGBT, uma epidemia nacional. Uma violência que a sociedade brasileira prefere fingir que não vê.

De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no Brasil, a cada uma hora alguém é agredido por causa de sua opção sexual. Um número que quintuplicou de 2011 a 2014.
Isso não merece ser denunciado?
Não se trata de uma exclusividade nacional, é verdade, mas, com certeza, nosso país não cansa de fornecer exemplos nada exemplares.

E em relação à intolerância religiosa não ficamos muito atrás.
As religiões Afro, o Islamismo, o Espiritismo e outras crenças menos populares sofrem com a satanização de seus rituais ou têm suas práticas tratadas de forma pejorativa por credos dominantes.
E o pior, a disseminação deste preconceito é fomentada justamente por pessoas que deveriam pregar o bem e a paz.  Vejam a imagem pescada da timeline de uma amiga no Facebook.




Não caiamos na esparrela, todavia, de condenar apenas um credo. Isso seria minimizar a questão. Embora muitas ações intolerantes noticiadas recentemente tenham ligação com segmentos das igrejas pentecostais, não é possível colocar todo mundo no mesmo balaio.
É claro que se o sujeito tem acesso aos meios de comunicação e falar para milhares, milhões de pessoas, seu discurso ganha muito mais peso, para o bem e para o mal.



O mais curioso é que nós, brasileiros, que gostamos tanto de copiar o que vem de lá de fora, não copiamos os bons exemplos de diversos países que lidam com a tolerância de forma extremamente natural e que não discriminam seus cidadãos por conta de credo, cor ou opção sexual.

Deve ser porque o brasileiro acha que não é preconceituoso. Que preconceituosos são os outros.
Não assumir, ou não saber identificar seus próprios preconceitos só piora as coisas.

No link abaixo está o depoimento que minha colega de TV Brasil, Luciana Barreto, âncora de um dos telejornais de rede da emissora, pretou na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal. Defensora da igualdade de direitos em nosso país, ela faz um relato que se encaixa muito bem no que falo aqui.
O Brasil não é um país de iguais e quando se busca uma maior igualdade, não faltam rótulos que tentam desmerecer as iniciativas.
São apenas 10 minutos, mas suas palavras que transbordam realidade.

https://www.facebook.com/lucianabarretooficial/videos/1073266249369572/?fref=nf


Vivemos, no Brasil, um caso coletivo de cegueira seletiva. Vemos o que queremos e não enxergamos o que não nos é do agrado.
Isso vale para a miséria, para a violência, para a discriminação... 
Uma cegueira que leva à intolerância, principalmente contra aqueles que insistem em nos abrir os olhos. É como diz Luciana ao final de sua fala:

"Parem de pedir paz quando, na verdade, o que querem é silêncio."