terça-feira, 29 de abril de 2014

TIROTEIO NA REDE

As redes sociais são algo realmente incrível e, a cada dia, são mais importantes em termos de oferta de informação para quem as a utiliza. O problema é que o excesso de conteúdo demanda sempre uma filtragem mais atenta. O que há de informações falsas não está no gibi, algumas por ingenuidade de quem posta, outras mal-intencionadas mesmo.
Quando questões polêmicas vêm à tona, aí é que as redes fervem com opiniões e postagens inflamadas de ambos os lados. E essa pluralidade, que deveria ser extremamente salutar, acaba virando guerra, com comentários ofensivos e respostas malcriadas.
Querem um exemplo?
A morte do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, durante uma operação da PM no morro do Pavãozinho, no Rio de Janeiro, há poucos dias.
É difícil você ver uma postura equilibrada. De um lado, críticas ferozes e acusações contra a Polícia Militar e suas ações em comunidades carentes, do outro, gente achando que o rapaz tinha culpa no cartório e que está sendo feito de mártir por trabalhar em um programa da Rede Globo.







           
Tento, por força da profissão de jornalista, ler tudo que se publica, tanto de um lado quanto do outro. Até porque existem argumentos válidos dos dois lados. E como o caso ainda não foi esclarecido, ninguém pode se considerar o dono da razão.
Depois de ver tudo que apareceu nos últimos dias, resolvi escrever este post e, nas próximas linhas, vou tentar dar uma resumida na polêmica e levantar alguns questionamentos que acho válidos.
Está claro para todos de que houve um assassinato. Resta saber de onde partiu a bala que matou o rapaz. Por se tratar de uma operação policial surge logo a hipótese de que o dançarino tenha sido baleado por policiais. Além do mais, por conta da conduta truculenta de muitos de seus homens, a PM do Rio de Janeiro acaba pagando o pato e sempre está sob suspeita. No entanto não dá para descartar a hipótese de que o disparo tenha partido de um bandido.


              Só a perícia poderá dizer. E  esperamos que o faça de forma competente e rápida. Só que a imagem de nossas autoridades está tão desgastada que mesmo que a PM seja inocentada pelos peritos, haverá sempre quem diga que o laudo foi forjado para inocentar os policiais. Alguém duvida?
             
              Depois da morte e de suas circunstâncias (o fato do rapaz pular da laje para fugir do tiroteio) também surgiram suspeitas sobre a vítima. Teria ele ligações com o tráfico? Logo brotaram, no reino da internet, “provas” de que DG não seria tão santo assim. Primeiro foi uma suposta mensagem publicada por ele no Facebook, lamentando a morte do traficante Cachorrão e avisando que haveria “barulho no PPG” (tiros na comunidade do Pavão, pavãozinho e Galo) em retaliação. Depois foi uma foto falsa divulgada na rede na qual Douglas seria um dos rapazes que apareciam armados com fuzis.


           Ao mesmo tempo, se publica que fontes da polícia dizem que a operação era para prender o traficante Pitbull, que participava de um churrasco no qual DG estaria presente. 

           Mas até que ponto qualquer dessas postagens é verdade?

           Só acusações não bastam. É preciso provas. E verídicas.

Para tentar fugir de tanto disse-me-disse existe a imprensa que, por sinal, vem cobrindo bem o caso, mostrando, inclusive, as divergências de versões e das perícias. É ela e só ela que pode pressionar as autoridades a explicarem realmente o que houve.
Vejam o caso do fotógrafo da REUTERS Lucas Landau. Ele mora perto do local onde houve o conflito entre moradores e policiais. Ouviu o barulho, pegou a máquina e foi para a rua, correndo risco, mas em busca da informação. Fez fotos fortes do rapaz que foi baleado e acabou morrendo depois. Fato registrado, irrefutável.



Sem um jornalista para registrar com critério, para olhar pros dois lados, qualquer informação tende a ficar truncada, pendendo para um lado ou para o outro.
Será que só a mídia alternativa (ou popular com insiste em qualificá-la a direção do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro) daria conta de tudo?

Mas muita gente insiste em achar que jornalista dos grandes meios de comunicação são vilões. No velório de Douglas, não se sabe bem partida de quem, a ordem era não deixar a TV Globo entrar para gravar. Foi preciso a Regina Casé chegar para que os profissionais da emissora pudessem trabalhar. Logo a Rede Globo que está dando um enorme espaço para o caso, pelo fato do rapaz ser dançarino do programa Esquenta. E aí cabe a pergunta: será que se o DG fosse um outro rapaz qualquer da comunidade haveria tanta repercussão?
Na passeata em protesto contra a morte de Douglas, na orla de Copacabana a repórter Maria Inez Magalhães de O Dia foi empurrada pela mãe do rapaz ao tentar perguntar sobre as investigações. Em seguida foi hostilizada por manifestantes que diziam: “Você não é gente, você é lixo, você não é bem-vinda aqui. Tem que respeitar. Fora, fora, fora”.

O que parece é que para algumas pessoas a mídia só serve para falar o que elas querem ouvir.

E foi numa mídia tradicional que aconteceu a principal homenagem a Douglas. No programa Esquenta do último domingo estavam todos de branco. Artistas e apresentadores da emissora dando depoimentos sobre a violência, especialistas e estudiosos falando sobre o tema e a família de DG presente. 
Foi o suficiente para acender o rastilho de mais um "combate" nas redes sociais. Alguns condenando o programa, dizendo que se tratava de uma exploração da morte em busca de audiência. Outros ressaltando a importância de levar a questão da mortandade de jovens para uma rede nacional de TV. Mas tudo num tom feroz, raivoso. 


Não vou analisar o programa, até porque não o assisti por inteiro. No entanto, me parece que o tom emocionado de boa parte dos que ali estavam era mais do que justificado, já que vários conheciam Douglas pessoalmente. Porém, tanta emoção acabava por contrastar com as expressões dos integrantes da plateia, também de branco, que, como claque que eram, estavam mais preocupados em sorrir para a câmera, quando eram mostrados, do que compartilhar o clima de tristeza reinante.
Um ponto baixo: a inserção da cena de um curta metragem em que o personagem vivido por DG aparece levando uma “dura” da PM no morro. Cena que desencadeou uma vaia aos policiais e que, subliminarmente, serviu como peça de acusação. Desnecessário para um caso que ainda está sendo apurado.
E um ponto alto: a fala de um dos convidados. Ele dizia que a situação toda envolve pobres. Os policiais são pobres, os bandidos são pobres e o local é moradia de pobres. E morte de pobre não chama a atenção, pois há matéria-prima de sobra para vários casos como esses. (não foram bem essas palavras, mas a ideia era essa).
Deixei para escrever este texto alguns dias depois do ocorrido para tentar ter uma visão mais ampla do caso, mas ainda falta muita coisa a ser esclarecida. E novos fatos ainda estão surgindo como a ameaça de morte que a mãe de Douglas diz ter sofrido por um homem com uma pistola 360 (eu não saberia dar tantos detalhes sobre armamentos assim).
E enquanto tudo não se esclarece vamos continuar vendo a batalha de posts, com informações e contrainformações, com verdades e calúnias, tentando provar seus ponto de vista, tentando defender suas ideologias.
E quando acabar o Caso DG, seguiremos assim, com outros temas: PT, Dilma, Petrobras, Aécio, Privataria Tucana, CPIs, STJs e outras polêmicas mais. 
Ou seja, em terra de informação livre, que tem conteúdo confiável é rei.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

PAIXÃO E FÉ

Nunca fui um homem ligado à religião. Nascido em família católica, fui batizado, fiz a primeira comunhão e até me casei na igreja. Mas nunca fui de frequentar missas e às que vou são aquelas que o dever social me impõe.
Nunca me senti muito à vontade em cerimônias católicas. Me sinto um peixe fora d´água. Talvez porque não viva a fé que leva a maioria daquelas pessoas no meu entorno a estar ali.
Descobri, já que não sabia até hoje, que sou um agnóstico teísta, ou seja, admito que não tenho conhecimento que comprove a existência de Deus, mas acredito que um Deus exista ou que, pelo menos, possa existir.
Não posso dizer que vivo a ausência da fé (acho que ninguém pode). Afinal, quantas vezes foram as vezes que conversei em particular com alguma força superior, via oração, com súplicas e agradecimentos...
Tenho fé na capacidade das pessoas de fazer o bem, tenho fé num mundo melhor e mais igualitário.
Mas a fé quase inabalável que vejo se manifestar em pessoas das mais diversas religiões, essa eu não possuo. Não sei se é um defeito ou não.
O fato é que atos de fé me tocam muito, sejam lá de que credo forem. Sou partidário dos versos de Gilberto Gil na música Guerra Santa:

Eu até compreendo os salvadores profissionais
sua feira de ilusões
só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz
deixa o outro vender limões
Um vende limões, o outro
vende o peixe que quer
o nome de Deus pode ser Oxalá
Jeová, Tupã, Jesus, Maomé
Maomé, Jesus, Tupã, Jeová
Oxalá e tantos mais
sons diferentes, sim, para sonhos iguais
 
 Não condeno qualquer tipo de manifestação religiosa, desde que ela esteja voltada para o bem, para a paz interior e a paz com o próximo. Quando utilizada para outros fins, sejam eles financeiros ou políticos, a fé, ao meu ver, se esvai. Como matar alguém em nome de um Deus? Como provocar um conflito armado pela supremacia de uma religião? Como buscar ganhos financeiros usando a fé de alguém????

Estive, recentemente, em Salvador, uma cidade que exala religiosidade. Um local onde o sincretismo é explícito. O candomblé e a religião católica estão unidas numa simbiose muito interessante. Fui, a trabalho, ao terreiro do Opô Afonjá e lá conheci Mãe Stella de Oxóssi. Pedi sua benção com todo o respeito que um líder religioso merece, pela forma como conduz seus fiéis.


Essas pessoas são especiais, não fossem, não estariam onde estão. Vejam o Dalai Lama, vejam Gandhi, vejam o Papa Francisco. O carisma dessas figuras é tão flagarante que elas passam a ser admiradas mesmo por aqueles que não creem.
Costumo dizer que se uma pessoa tivesse que me convencer dos mistérios da fé católica, essa pessoa teria que ter sido Dom Helder Cãmara. Este foi o religioso que mais me impressionou até hoje. Lembro de sua figura frágil subindo o palanque montade no Pátio de São Pedro, em Olinda, e como me espantei ao ouvir sua fala. Incisiva, forte, cheia de afeto com os que o ouviam. Um homem que transbordava fé.



Gosto de visitar igrejas, templos, mesquitas. Admiro seus símbolos, seus ídolos, seus santos. Acho tocantes os mais diversos rituais religiosos, principalmente porque eles tocam a alma das pessoas e afloram suas emoções. Não esperava, contudo, encontrar um clima assim em um museu que visitei dias atrás. Trata-se do Museu da Liturgia, na cidade de Tiradentes.



Encravado nas montanhas que formam a serra de São José e localizado numa rua de nome curioso (rua do jogo de bola), o museu surpreende. Por trás de uma fachada colonial surge um belo jardim e nele bancos que se assemelham a confessionários. Só que ao invés de palavras de perdão e penitências, o que houve, ali, são músicas sacras, como que a preparar nosos espíritos para a visita.



O interior, moderno, destoa um pouco da arquitetura original e isso também é um atrativo a mais. Logo na antessala um painel de telas de vídeo nos traz rostos de habitantes da região participando de cerimônias religiosas como missas e procissões. Em suas faces a emoção e a contrição serena da fé. Ao fim os rostos são substituídos por imagens de uma pomba branca, num suave vôo, representando o Espírito Santo.



No final, uma surpresa. Na sala com diversos monitores, onde um padre aparece fazendo o gestual da liturgia católica, descobrimos que o religioso em questão era ninguém menos do que o padre Lauro Palú, que durante muitos anos esteve à frente do Colégio São Vicente de Paulo, onde minha filha estuda.



Nosso guia foi o Rogério Almeida e não poderia ter sido alguém melhor. Rogério é da região e um dos responsáveis pelo museu. Durante a visita conversamos não só sobre as belas peças e imagens que ali estavam expostas, mas também sobre a necessidade de se preservar um material de tão grande significado para tanta gente. E a cada palavra de Rogério ficava patente a importância daquilo tudo para ele, não só pelo lado profissional, mas também pelo lado pessoal, religioso, emocional... Por vezes seus olhos ficavam úmidos ao falar do valor que tudo aquilo tinha para ele e para seu povo.
Esse, creio eu, deve ser o mistério da fé. A sensação de crer e de se sentir em paz com sua crença.
Aí, algum de vocês pode perguntar: "Se você acha tão importante crer, tão bonito se entregar à fé, não fica triste por não estar ligado a uma religião?"
E eu respondo: "Não."
E o motivo para tão peremptória negação é o fato de que não tenho questionamentos filosóficos em termos de religião, do tipo: existe um Deus?, uma força superior?, quem somos?, de onde viemos?, para onde vamos?
Não sei de onde vim, mas sei que estou aqui e é com o que vivo aqui é que devo me preocupar. Viver da melhor maneira possível, respeitar e amar os que estão em volta. Ser bom.
Talvez por isso o lema dos Franciscanos, que aprendi quando estive em Assis, na Itália, me tenha sido tão especial: Pax et Bonum  (A paz e o bem).
Quero isso. Viver em paz e ajudar, como puder, que outros vivam assim, Fazer o bem e disseminar essa ideia.
O que vem depois eu não sei. Espero que seja algo de bom.
E já que o tema é religião, me despeço desjando uma boa Páscoa aos amigos católicos, judeus e de todos os demais credos.
 

 

terça-feira, 15 de abril de 2014

QUO VADIS?

Me considero um ser urbano.
Mas o fato de morar no Rio de Janeiro me tira, um pouco, o estigma de habitante de uma megalópole. O Rio é cidade grande, com todos seus problemas, mas tem o mar e mesmo que você não frequente a praia com tanta frequência, como eu, por exemplo, ela está lá, pronta para te receber ou apenas para te proporcionar um lindo e amplo horizonte.

 

Também, não esqueçamos, há a Floresta da Tijuca, presente, ao nosso redor. E para admirá-la não preciso nem sair de casa, é só chegar na janela. Seus habitantes, vez em quando resolvem, até mesmo, visitar os vizinhos urbanóides. Podem ser micos, passeando sobre fios ou um casal de tucanos vermelhos, se você der mais sorte. A Floresta, urbana como eu, está também à disposição em simples roteiros de carro ou para visitas mais específicas como uma caminhada aos domingos nas Paineiras, com direito a banho na água gelada de uma nascente.


Mesmo assim, o Rio, como grande centro urbano, tem horas que torra o saco de qualquer cristão, por mais devoto e paciente que seja. Se formos falar de trânsito, então, aqui deveria ser o local da provação final de todo monge budista. Se o sujeito, depois de passar uma hora e meia preso num trecho que normalmente levaria 15 minutos para percorrer, continuar zen, ganha o diploma com honras ao mérito.
Outras questões como a carestia e a violência urbana também preocupam e desanimam a nós, moradores.

Você, eu não sei, mas eu vivo pensando em como seria morar num lugar mais tranquilo.
Na maioria das vezes isso não passa de uma leve divagação, mas em alguns momentos a tentação é bem grande.

Tenho parentes em Vitória e sempre que vou lá penso que a capital capixaba poderia ser uma boa opção. Também adoro Belo Horizonte, cidade que me atraiu desde a primeira visita ainda nos primórdios dos anos 1980. Mas uma análise mais aprofundada me leva a concluir que também nessas cidades há problemas inerentes aos centros urbanos e que a mudança não seria tão significativa assim.

Qual seria a saída então? Ir morar no interior?

Nos tempos de recém formado em RP, ainda sem um rumo na vida, fui visitar uma amiga em Monte Azul Paulista, no interior de São Paulo, a 100km de Ribeirão Preto e 415 km da capital. Uma cidadezinha com praça coreto, igreja, prefeitura, clube e ponto final. Um lugar bonito, calmo, de gente boa. Cheguei a cogitar em largar tudo e ir morar por lá, mas no ônibus de volta ao Rio, com tempo de sobra pra pensar (mais de 10 horas de viagem) vi que, num lugar como aquele, minhas opções de trabalho seriam poucas e que acabaria sendo comerciante, vereador ou coisa que o valha.

 

Pois no último final de semana conheci algumas pessoas que tomaram a decisão de ir pro interior, mais especificamente para Tiradentes, em Minas Gerais. Gente que, de certa forma, me mostrou que é viável deixar um centro urbano e viver mais em paz. Pessoas que decidiram largar seus trabalhos estáveis e arriscar num negócio próprio em uma cidade turística. Mas por mais idílica que possa parecer a ideia, ela também implica em uma série de dificuldades, principalmente porque, em nosso país, o turismo é um ramo bem instável, sujeito a chuvas e tempestades da economia e ao pedregoso caminho da burocracia e da voracidade fiscal nacional.
Porém, como disse, conheci pessoas que decidiram pegar o touro a unha. E que descobriram que para vencer era preciso se unir. O grupo que se intitula Tiradentes Mais vem tentando mostrar à cidade e ao resto do Brasil o potencial da região. Ao invés do lucro individual, donos de pousadas, restaurantes, lojistas, buscam o crescimento de uma marca de qualidade. Qualidade essa que ao ser apresentada ao turista se transforma em satisfação. Satisfação que fará com que a cidade seja bem aceita e recomendada a outras pessoas.


Parece simples e é. As ideias brilhantes são simples, mas é preciso que alguém pense nelas.
Senti um quê de inveja (da branca...) e até mesmo o desejo de um dia poder participar de algo assim.
Torço para que a iniciativa frutifique, afinal Tiradentes é um lindo lugar e merece que mais gente a conhça.




Porém é preciso que a preocupação com a cidade esteja sempre em primeiro lugar, pois não se pode correr o risco de matar a galinha dos ovos de ouro.
Enquanto não me decido, de fato, a mudar meu estilo de vida, alimento o velho sonho de um dia, bem velhinho, ir morar num casarão da minha querida Olinda e poder, da minha janela, ver, até quando aguentar, o lindo verde mar de Pernambuco e saudar os foliões que por lá passarem a cada Carnaval. Nada mal, não é?

 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A MÍDIA, O ALCAIDE E OS INVASORES

O dia está sendo marcado pelas imagens de violência da retomada de um terreno abandonado da Oi, no Engenho de Dentro. Violência por parte da polícia, violência por parte dos invasores. Feridos (entre eles uma criança), carros incendiados e caos no trânsito dos bairros próximos.
Escrevo ainda no frigir dos ovos, mas o tema que quero debater não depende do resultado da ação.

Começo perguntando: por que a ação de desocupação do terreno foi feita de maneira tão célere pelas autoridades cariocas?
Algumas possíveis respostas:
- Para que se cortasse o surgimento de mais uma favela no Rio, antes que ela se estabelecesse.
- Porque a Oi foi atendida em seu pedido de reintegração de posse e a justiça deve ser cumprida da maneira mais célere possível.
- Porque uma cidade que vai sediar uma Copa e uma Olimpíada não pode se dar ao luxo de ter novas favelas.
- Porque a mídia descobriu, por acaso, a nova favela, fez alarde e as autoridades se mexeram por conta disso.
- Um pouco de todas as repostas acima.

 De uns vinte anos para cá, a ocupação de terrenos, prédios, fábricas e galpões abandonados virou rotina. A Avenida Brasil e bairros do subúrbio, atingidos pelo esvaziamento econômico do Rio, se tornaram as áreas mais propícias. São muitos os exemplos: a antiga fábrica de roupas Evelin,  a CCPL, em Benfica, a fábrica da Borgauto (Bonsucesso), a Conab (Manguinhos) e a fábrica da Poesi em Ramos.


                                                                         O GLOBO/2002


                                                                       O GLOBO/2008


Por que então o terreno da Oi se transformou numa exceção?
Porque os invasores deram o "azar" de serem flagrados quando ainda começavam a invasão.
Na terça-feira,  dia 1º de abril, o jornal O Dia falava sobre o começo da invasão, inclusive relatando confrontos com policiais. No dia 3 o repórter Genilson Araújo, a bordo do helicóptero em que trabalha todos os dias, fez uma foto do alto.


O telejornal Bom Dia Rio também chegou a fazer imagens com o Globocop durante a semana, mas o assunto só ganhou destaque depois que O Globo fez uma matéria, na sexta-feira (4/4) com o emblemático título: "Como nasce mais uma favela" 


O prefeito Eduardo Paes teve, então que se mexer. Tinha que dar uma resposta à cobrança da mídia. E logo soltou uma declaração:  "Não conheço favela nenhuma da Telerj e, sim, uma invasão com todas as características que uma invasão profissional pode ter. É um movimento organizado, com pessoas que estão ali loteando, demarcando. Pobre que é pobre, que precisa de casa, não fica demarcando, não aparece com madeirites marcando número". 
Em um prazo recorde de sete dias após a manchete de O Globo, a polícia invadia o terreno.
Agora, pensemos juntos: se essa favela não tivesse sido denunciada e se estabelecesse de fato, será que o Prefeito teria se empenhado tanto ou ela passaria a fazer parte da cidade como tantas outras?
Algumas emissoras, alegando questão de segurança para a proteção de seus profissionais preferiram não entrar no local durante o processo da invasão. Outras, como o SBT foram até lá e mostraram a situação de perto.
Um artigo publicado pelo grupo Mídia Ninja criticou a cobertura feita por quem não tenta apurar com os moradores o que realmente está acontecendo: "...tiram suas conclusões vendo tudo de cima, de dentro de helicópteros, portando câmeras com zoom de 8 km. Perguntam para os vizinhos, para a polícia, para o prefeito, antes de perguntarem para aquelas pessoas o que as motiva a lutar por aquele espaço, por mais inabitável que possa parecer".
Junto com o artigo há uma galeira de fotos dos invasores, numa tentativa de humanizar a questão.
Também há um vídeo feito pelo grupo e veiculado no Youtube:

Questões como essa da invasão não são simples e merecem, sempre, olhares e análises por todos os ângulos. Afinal, por trás da notícia, há gente.
Será que se trata mesmo de uma ação orquestrada, como diz o alcaide?
Ou será esse um reflexo da situação de penúria de boa parte da população brasileira?
Ao mesmo tempo, ocupar um terreno particular é ilegal.
O equilíbrio da informação é que é fundamental, para que a opinião pública possa tirar suas conclusões. E se nem todas as informações vêm através de empresas de Comunicação estabelecidas, que venham, também, através dos Ninjas da Internet.
Mas nunca é demais lembrar que ninguém é apenas santo, ou apenas demônio. E ouvir todos os lados das questões é sempre a forma mais sensata de chegar a alguma conclusão.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

MINHA JANELA DE FRENTE PRO CRIME


Dizem que a TV é uma janela aberta para o mundo e, deixando a poética de lado, é mesmo. Através do televisor podemos conhecer lugares a que nunca fomos, saber mais sobre pessoas que, provavelmete, jamais conheceríamos de outra forma, nos entreter e nos informar...
As informações que nos chegam, são de toda espécie, mas, infelizmente, cada vez mais adentram à nossa sala imagens relacionadas à violência urbana. Uma violência que acaba ganhando uma exposição ainda maior ao ser reproduzida pela internet.
Vejam dois exemplos desta semana. O primeiro aconteceu na segunda-feira, na Tijuca. Um professor é baleado no coração e morre ao tentar resistir a um assalto.

 



http://extra.globo.com/casos-de-policia/video-flagra-execucao-de-professor-na-tijuca-zona-norte-do-rio-12144439.html#ixzz2yUsPIlbh

Apesar do crime ter acontecido numa das mais movimentadas ruas do bairro, ninguém foi preso.

Na quarta-feira, mais um flagrante impressionante e, felizemnte, sem morte. Enquanto o repórter Eduardo Tchao, da TV Globo entrevistava uma senhora sobre roubos nos arredores da Central do Brasil, um pivete arrancou o cordão de ouro da vítima sem se intimidar com a câmera.



https://www.youtube.com/watch?v=-K_NbGCfITU

O repórter, por instinto, saiu atrás do assaltante, mas o que se vê na sequência das imagens é que o rapaz passa ao lado de outras pessoas que, mesmo sabendo que ele está sendo perseguido, nada fazem.

Na sequência do telejornal o que se vê é o posicionamento da polícia. Comentários padrões e vagos que dão a impressão a nós, moradores, que não há como policiar a cidade como um todo. Nem mesmo os pontos onde se sabe que os roubos acontecem com maior freqência.

São tantos problemas que me fazem lembrar uma sala cheia de goteiras onde, por conta de não se conseguir consertar o teto, espalha-se panelas e vasilhames para coletar a água.


Na verdade, para se ter a noção de que os problemas do Rio não se resumem à violência, não é preciso recorrer à "janela eletrônica". Qualquer janela normal expõe o quanto as coisas estão erradas.
Trabalho na Lapa, entre as ruas dlo Lavradio e Gomes Freire e da janeela da minha sala vejo uma série de irregularidades:

- o abandono da sede do Bola Preta, um casarão centenário que por conta de infiltrações viu o segundo andar desabar. Isso faz quase dois anos. Foi em maio de 2012 e até agora nada foi feito. Provavelmente só se falará de novo sobre o caso se o resto do casarão desabar.


- Embora não chova há alguns dias, há uma grande poça de esgoto na Rua da Relação

- Em uma das esquinas, ônibus fecham o cruzamento, mesmo sob o protesto dos apitos dos controladores de trânsito da Prefeitura (que parecem não fazer outra coisa a não ser apitar)

- Na outra esquina, um carro está parado sobre a faixa de pedestres.

E a gente vai se acostumando com tudo isso. Vai achando que tudo é normal. E não é...
Da mesma forma como vamos nos acostumando com a violência urbana.
Ok, vivemos em um grande centro e em todos eles há violência, mas o conformismo não tem justificativa.
O voyeurismo eletrônico não pode servir para nos sentirmos aliviados pelo fato de que aquilo aconteceu com outros e não conosco.
Não sou contra a exposição da violência, pelo contrário, acho que o papel da imprensa é denunciar. Mas também é preciso cobrar e cobrar sempre, sem se satisfazer com "notas-pé" capengas.
Só com a mobilização da imprensa e da sociedade em geral as coisas podem mudar.
Mas, para isso, também é preciso que cada um faça a sua parte.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

TÔ FORA DE MODA...

Há pouco tempo, uma postagem de um amigo, o DJ Edinho Cerqueira, me lembrou de algo que há algum tempo vinha querendo escrever, algo sobre a Moda. Já falei disso, aqui, há algum tempo, mas não me canso de me surpreender, tão absurdo, para mim, é o tema.
Na postagem citada, Edinho narra uma festa no Circo Voador e conta sobre a padronização do "modelito" hipster. Confesso que, apesar de já ter ouvido este termo, não ligava o nome à pessoa e tive que apelar a São Google.
Segue um trecho do verbete da Wikipedia:

"Hipster é um termo frequentemente usado para se referir a um grupo de pessoas pertencentes a um contexto social subcultural da classe média urbana. A cultura hipster faz parte da variedade de subculturas que coexiste com a cultura mainstream. No Brasil, a maior concentração de hipsters pertence a região sudeste, principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
A cultura hipster é marcada pela música independente, saudosismo recorrente, uma variada sensibilidade para a tendência non-mainstream (não comum, não recorrente) e estilos de vida alternativos. Os interesses referentes à mídia por esse grupo incluem filmes independentes, revistas e websites notadamente relacionados à música alternativa."

Depois de ler a definição acima fiquei ainda mais espantado. É que o post de meu amigo citava o quão padronizados estavam os frequentadores da tal festa, logo eles que, em princípio, gostam de um estilo independente, alternativo.

"...parecia uma fábrica de clones: todos com cabelos raspados na lateral e entopetados, mas com uma barba de fazer inveja a qualquer patriarca da igreja ortodoxa...e a profusão do vestuário calça skinny e camiseta de português ou camisa de botões com estampa xadrez...quase um uniforme..."




Tudo bem que tem aquele papo de tribo... Que os iguais se reconhecem, que é uma forma de se sobressair na multidão, de diferir da sociedade estabelecida,.. Mas quando juntamos a ttribo em sua "taba", a microssociedade local se padroniza e, na minha humilde opinião, isso vai de encontro aos interesses de que quer ser "diferente". 
É claro que esse não é um problema dos hipsters, todos grupos são assim, punks, mauricinhos e patricinhas, funkeiros, yupies (isso ainda existe???). Eu, que não pertenço a tribo nenhuma, também acabo me vestindo de acordo com padrões pré-estabelecidos. As lojas vendem o ususal e usamos esse ususal.
O que mais me espanta e até me irrita são as tais "tendências", tanto comportamentais como de vestuário. Vira e mexe, como hoje, os jornais estampam "notícias" sobre o que vai estar, ou não na moda. Vejam o exemplo:


O Globo afirma, a moça acima sabe das coisas... E aí é como se tivéssemos que participar daquela brincadeira de infância: o que o seu mestre mandar, faremos todos...
O que a moça diz, afirma a reportagem, vai servir para a produção das confecçãoes e estará exposto em cada vitrine, das mais caras lojas aos  SAARAS e 25 de Março da vida. 
Haja poder!
O jornal em nenhum momento questiona quais são os critérios da tal pesquisa que a moça fez.
Pra que? Será que isso realmente importa? 
Provavelmente descobririam que  as tendências daqui vão seguir as tendências de matrizes como New York ou Paris e que essas tendências surgiram de "pesquisas" de outras moças como essa, só que falando francês ou inglês, quiçá, italiano.
E o que é mais incrível é que milhões de pessoas passarão a revirar os armários em buscas de peças antigas que voltaram à moda (sim, porque a moda é cíclica... não há criatividade suficiente para tantas mudanças...), ou de roupas que são da mesma cor daquelas escolhidas para ser a tendência da estação. Se não encontrarem, melhor para as lojas, que estarão prontas, com prateleiras abarrotadas para saciar tal desejo e garantir que todos fiquem na moda, por mais padronizada que ela possa parecer...

terça-feira, 1 de abril de 2014

O TRAÇO E A TROÇA

Algumas charges que saíram, Brasil afora, sobre os 50 anos do Golpe. opoder de satirizar o trágico, de fazer rir com temas graves e de satirizar quem insiste em se levar a sério.


     Fernandes (Diário do ABC-SP)


    Fausto (Jornal Olho Vivo)


  Pelicano (Bom Dia-SP) 




  Edgar Vasquez (Diário Popular-RS)


  Brum (Tribuna do Norte-RN)

   Aroeira (O Dia-RJ)



   César (|Notícias do dia)

 

  Mário (A Tribuna de Minas) 


    Miguel (Jornal do Commercio-PE)