quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dói demais...

O desabafo é da mulher do cantor sertanejo Pedro Leonardo, em coma, depois de um acidente de carro. Só que a dor a que ela se referiu nessa quinta-feira (26/4) teve a ver com o pavoroso assédio da imprensa na transferência do rapaz de um hospital em Goiânia para outro, em São Paulo.

"Gostaria muitooo que as pessoas pessassem nele como um ser humano!!! Que tem família!! O que essas pessoas queriam ver?! Ele entubado? Não consigo acreditar quando vejo as imagens!!! Pelo amor de Deus, vocês sabem o que é ver alguém entubado? Dói demais!!! 

O cerco de fotógrafos e cinegrafistas ao lado da ambulância, em Goiânia foi mesmo assustador. 


Uma médica havia avisado que qualquer tipo de tumulto durante a saída do cantor poderia acarretar riscos para sua saúde, tão debilitada. Mas quem disse que os "profissionais" da imprensa se incomodaram com isso.
Não adiantou a equipe do hospital colocar dois biombos na tentativa de preservar o paciente. Como micos amestrados de um circo eletrônico, cinegrafistas e fotógrafos subiam onde podiam, filmavam por baixo do biombo, se engalfinhavam, e na tentativa do que???? Registrar um ser humano em coma, todo entubado...




Pergunto a vocês, meus parcos leitores, o que acrescenta uma imagem como essa???? 
E se um deles se desequilibrasse e caísse sobre a maca??? 
E se Pedro morresse???
Os idiotas da objetividade (obrigado, Nelson Rodrigues) vão dizer que este é o trabalho jornalístico e eu serei obrigado a mandá-los às favas (para não usar um palavreado de baixo calão).
O respeito ao ser humano vem antes de tudo, mas nossa imprensa já se esqueceu disso há muito tempo. News are business e na cabeça doentia de quem deu a ordem de fazer a imagem, custasse o que custasse, tal imagem poderia render pontinhos de audiência, ou uma capa impactante. 
Foi o que o jornal carioca O Dia fez ao estampar a foto do técnico Ricardo Gomes em um leito de hospital na primeira página.




Há quem argumente, talvez, que alguém faria a imagem e quem optasse por não fazê-la seria "furado". Pois sejamos furados, senhores, e sempre, quando for em casos assim. A desculpa de "Maria vai com as outras" não é uma decente justificativa.
Realmente parece que nossa mídia, em geral, "perdeu a mão" e o resultado dessa receita, como vocês podem ver, é intragável.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Histórias que não aprendemos

Vivemos em um país que não conhecemos.
Se hoje essa máxima se aplica, imaginem em 1938 quando o teve início a Marcha para o Oeste, ordenada  por Getúlio Vargas, durante o Estado Novo.
Assistir ao filme Xingu é mergulhar em outro Brasil. É viajar no tempo, na mesma canoa que levou os irmãos Orlando, Claudio e Leonardo Villas-Bôas rumo ao desconhecido.


Claro que já tinha ouvido falar dos irmãos Villas-Bôas, mas por revistas ou telejornais. Na escola, nunca.
A maior parte do período em que passei em sala de aula, os militares passaram no poder. Heróis, em nosso país, nos foi ensinado, eram aqueles que tinham patente.

 

Os Villas-Bôas, que pude conhecer melhor graças ao filme, no entanto, merecem um lugar no panteão dos grandes brasileiros. Ao se depararem com a riqueza de nossa natureza e da cultura dos indígenas, que sempre a tiveram como lar, decidiram lutar pelo meio-ambiente (muito antes de qualquer ativista verde), pelos indígenas (que até hoje ainda sofrem com um enorme preconceito pela população "branca") e pelo país.
Xingu é um filme épico.
O trabalho desses três irmãos, principalmente o de Claudio e Orlando, é equiparável ao do desbravador Rondon. Sua saga é tão memorável quanto a Coluna Prestes. Todos eles, brasileiros que mostraram à população da beira-mar, as entranhas e as origens de nosso país.
Através do filme também descobri que lei que criou o Parque Nacional do Xingu foi sancionada por Jânio Quadros, presidente por mim sempre associado a fatos negativos (talvez pela tal educação "militar" que recebemos).
A reserva serviu para proteger diversas tribos que estavam se dispersando e perdendo sua identidade. E se olharmos para o mapa abaixo ( de 2007), veremos seu papel na preservação do meio-ambiente. Os pontos em vermelho ou laranja são áreas de desmatamento no Mato Grosso. Já a área do Parque Nacional do Xingu permanece preservada. E o tamanho desse território não pode ser desprezado: cerca de 30 mil quilômetros quadrados. No filme, um político reclama de que a área pretendida era maior do que a Bélgica, ao que Claudio Villas-Bôas responde: "A Bélgica é que é pequena demais."

O diretor Cao Hamburguer não optou apenas por "dourar a pílula" e tratou de mostrar os dois lados da moeda, pois mesmo no intuito de ajudá-los, os "brancos" que participaram dessa empreitada, fizeram com que doenças se espalhassem entre as tribos e ainda provocaram uma ruptura numa cultura de muitos séculos.
Os próprios Villas-Bôas se questionaram diversas vezes sobre a validade de tudo aquilo que fizeram.


Não deixem de ver Xingu. Quem tiver filhos, que os leve. E descubram, de uma forma emocionada, um importante pedaço de nossa história que merece ser eternizado.
As palmas que ecoaram no cinema em que fui, logo após a exibição, foram mais do que merecidas.



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Ai, ai, meu Deus... Mas o que foi que aconteceu com a Música Popular Brasileira?

Não se faz mais música brasileira como antigamente!
Lá vem o Casé com seus suadosismos, vão pensar vocês. Mas é verdade e posso provar...
A quantidade de lançamentos caiu assustadoramente.
Para provar isso fiz um breve levantamento da discografia de alguns grandes nomes da MPB entre os anos de 1979 e 1989. O período foi propositalmente escolhido por se englobar a abertura política e o fim da Ditadura Militar no país. Só foram levados em consideração discos com músicas inéditas. Alguns deles se tornaram clássicos:

 Caetano Veloso: 9 discos 








Maria Bethânia: 9 discos







Tim Maia: 9 discos (gravar ele gravava... já ir aos shows....rs)








Chico Buarque: 8 discos








 Ivan Lins: 8 discos









Gal Costa: 8 discos (foi seu auge)









Djavan: 7 discos








Gilberto Gil: 7 discos








Milton Nascimento: 6 discos

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elis Regina: 4 discos (não foram mais por razões óbvias)











Este é só um pequeno exemplo.
Lembremos, também, que nos anos 1980 estourou o movimento do Rock Brasil, com bandas como Paralamas e Titãs. Não podemos deixar de citar a rapaziada do Nordeste: Moraes Moreira, Geraldo Azevedo, Elba e Zé Ramalho e Alceu Valença. Tinha a turma do Clube da Esquina: Beto Guedes, Lô Borges e 14 Bis. Do sul, vinham Kleiton e Kledir. E o Boca Livre emplacava um sucesso atrás do outro?Todos com muitos discos lançados nessa década.

É claro que há várias razões para esta diminunição drástica de lançamentos, mas a principal delas é a pirataria, seja por venda de CDs genéricos ou pelo compartilhamento de arquivos pela Internet.



O lucro com a vendagem caiu muito e os artistas vivem, hoje, de direitos autorais ou de shows. Quando dá vontade ou quando a gravadora bota pressão, fazem algo novo, ou semi-novo, com muitas regravações.

O certo é que a indústria fonográfica terá que se reinventar. A venda de músicas pela Internet, nos EUA, já superou a venda em lojas. Mesmo assim a tentação da gratuidade ainda é muito grande, principalmente em países com uma população com menor poder aquisitivo.
Alumas gravadoras estão partindo para a estratégia do CD Zero - um cd mais barato com 5 ou 6 músicas que tocam nas rádios. Uma tentativa de chegar perto do preço oferecido por camelôs.
Acho que ainda é pouco. O consumidor que dá preferência às gravações originais poderia ser melhor tratado, com conteúdos exclusivos ou planos de fidelidade, por exemplo.

Algo terá que ser feito, até porque o compartilhamento de arquivos não vai acabar. A prática é antiga. Quantos vinis peguei emprestado (e emprestei) para a confecção de fitas cassetes.



Só que agora, com a Internet este ciclo de amizades cresceu um bocado...

sábado, 14 de abril de 2012

A pureza de um sorriso

"Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."

É com essa frase que Fernando Sabino encerra seu texto intitulado "A Última Crônica". (http://intervox.nce.ufrj.br/~jobis/s-ult.html)

Eu sou fã de Sabino, porém essa crônica sempre me tocou mais fundo. O tal sorriso (para quem não quiser ler a crônica) é de um pai que leva o filho para comemorar seu aniversário em um botequim. Não há como eu ler o texto e não ficar arrepiado, visualizando o tal sorriso.

Pois foi um sorriso assim que me levou a escrever este post. Estava no Facebook quando a amiga Malu Cabral avisou que Loco Abreu e Rodrigo Santoro estavam no Caldeirão do Huck deste sábado (14/4). Achei que se tratava de mais uma promoção do filme Heleno e fui dar uma olhada.
Na verdade, os dois participavam de um quadro chamado Peneira, que busca meninos bons de bola e os leva para tentar a sorte em seu clube de coração.
O menino em questão se chama Jonatha. Ele tem 12 anos é o camisa 10 do time do projeto Criança do Futuro, de Belford roxo, na Baixada Fluminense.
Sem que o menino saiba o que o espera, Luciano o leva até a sede do Botafogo, em General Severiano. Passeiam pela sala de troféus e por todas as dependências do clube.
Em um determinado momento o apresentador incentiva o menino a fazer uma declaração para seu ídolo, o uruguaio Loco Abreu. O garoto se emociona e enquanto chora com as mãos sobre o rosto, o atacante alvinegro entra na sala de imprensa e abraça o menino por trás.



É nesse momento em que surge o sorriso a que me fez escrever este texto. Em poucos segundos a expressão do menino passa da incredulidade à felicidade extrema.



(http://tvg.globo.com/caldeirao-do-huck/peneira/episodio/com-aval-de-loco-abreu-marcos-jonatha-e-aprovado-no-peneira-do-botafogo.html)

Um sorriso luminoso como o que sempre imaginei ao ler a crônica de Fernando Sabino.
A emoção tomou conta de todos, inclusive a mim (sou uma manteiga derretida). E tenho certeza de que Loco Abreu jamais esquecerá aquele sorriso. Por mais tempo de estrada que tenha no futebol, duvido que esse momento não tenha sido especial para ele. Um momento em que sua idolatria se mostrou de forma palpável,  intensa e emocionada.


O menino foi bem no teste ao lado de garotos de sua idade e ganhou a chance de treinar durante um tempo no clube, até uma nova avaliação em breve.
O começo, quem sabe, de uma caminhada rumo a um sonho pra lá de difícil.
Mas para o menino Jonatha e para o veterano atacante alvinegro, vai sempre restar aquele sorriso.
Um sorriso puro com o da crônica de Sabino.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O dilema de Tostines no octógono

As lutas de UFC ou MMA não são novidade. São quase 20 anos desde a primeira edição do UFC, em novembro de 1993, em Denver, no estado americano do Colorado.Na época o evento reunia praticantes de oito lutas diferentes: Savate, Sumô, Karatê, Judô, Jiu-jitsu, Shootfighting, Boxe e Tae Kwon Do. E já havia um brasileiros na disputa, Royce Gracie, filho do velho Hélio Gracie, que, por sinal, venceu a disputa.
De lá pra cá foram mais de um centena de torneios, sempre com participação marcante de brasileiros, mas nunca a valorização do "esporte" foi tão grande como agora.
Cabe a nós perguntar: por que?
A explicação me parece simples. Quando essas lutas, que até então eram transmitidas em canais a cabo ou em pay-per-view, foram parar na TV aberta, os índices de audiência fizeram com sua história mudasse no país.
A Rede TV (bleargh!!!!) comprou os direitos de exibição das sangrentas disputas e começou a incomodar a Globo. Não que fossem índices assustadores, mas quem está na liderança, quando se vê ameaçado, tende a reagir.


E a reação foi rápida. Logo a emissora do Jardim Botânico abocanhou os tais direitos e resolveu transformar os combates que acontecem dentro do octógono em "o esporte que mais cresce no mundo".
Abro parentese para este tipo de slogan. Se tenho dez praticantes e um ano depois tenho 50, o meu esporte cresceu 500% e provavelmente nenhum outro crescerá tanto. Portanto slogans assim tendem a ser verdadeiros e mentirosos ao mesmo tempo. Fecho parentese.
Não tento ver chifres em cabeça de burro, mas a campanha global para a popularização do UFC é maciça. Deixo que as fotos falem por si:










O jornalismo da emissora também se rendeu ao tema.



Como o núcleo de telenovelas, é claro,  não poderia ficar de fora, o vale-tudo foi parar em horário nobre com dois personagens de Fina Estampa. Um deles é um campeão que supera supostos problemas no coração para voltar a lutar e se tornar campeão. O outro é um delinquente juvenil que é salvo pelo esporte.



Li que outra novela já pretende usar o UFC em sua trama. No remake de Guerra dos Sexos, o judô, que estava no enredo original, será substituído pelo vale-tudo.

Recentemente, como pièce-de-resistence deste cardápio, surgiu um reality show com lutadores, em busca da fama. Até a comportada Sandy foi convocada para humanizar os violentos embates.



O melhor texto que li, até agora, sobre este BBB de brutamontes foi escrito por Gianni Carta, editor do site da Carta Capital.

"Inspirado no Big Brother Brasil, The Ultimate Fighter consegue ser ainda mais fastidioso. Isso porque vemos 32 brutamontes confinados numa casa no Rio de Janeiro. E não tem biquíni. E nem sexo – consta que ontem não houve nenhuma cena de duplas ou grupos se cobrindo com edredons nas suas camas."

O texto na íntegra pode ser visto no seguinte link:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/mma-a-barbarie/

Apesar de tudo isso, há quem defenda que o espaço só surgiu porque o "esporte" fez sucesso junto ao público e que é preciso repercutir isso.
É o dilema de Tostines (aquele que pergunta se o biscoito vende mais porque está sempre fresquinho, ou se está sempre fresquinho porque vende mais): a Globo resolveu abrir suas portas para os "gladiadores" do vale-tudo por que o público quer isso, ou a superexposição dos brutamontes e a massificação do tema acaba criando uma "demanda"?
O assunto é muito bom pra quem gosta de analisar a mídia.
E é por isso que este será o tema da próxima edição do Observatório da Imprensa, dia 17, às dez da noite na TV Brasil.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Verdades incovenientes


O atacante do Botafogo, Loco Abreu, foi o convidado do programa Redação Sportv, nesta segunda-feira, 9 de abril. Conhecido por não ter papas na língua, o uruguaio disparou contra a imprensa esportiva. Perguntado pelo apresentador André Rizek sobre a declaração de um jogador do Cruzeiro, de que ainda perderia muitos gols além dos que já perdeu, Loco respondeu "na lata".


- Eu acho o seguinte: O garoto fez dois gols na partida e o repórter vai lá pra falar justamente do gol que ele perdeu [...]Mas é isso que acontece aqui no Brasil eu já aprendi que aqui não se faz um jornalismo sério, mas um jornalismo de confusão. Ficam explorando a negatividade pra ver se vai render[...]Por exemplo, tem três jornalistas do Globo Esporte que eu não falo mais; eles vão ao treino do Botafogo e eu não falo mais com eles, pois já sei no que vai dar..

E deu um exemplo:

- O jogo acaba o repórter vem perguntar o que eu achei; eu falo que o time jogou num 4 -3-2-1 mais avançado e tal [...] aí o cara vai lá e escreve depois que eu tô querendo questionar o treinador [..] Aí agora, sabe o que eu faço? Não falo mais nada.

Se no gramado Loco não tem rendido o que a torcida alvinegra espera, à frente de um microfone, só tenho elogios a ele. O uruguaio, até por sua experiência profissional, foge do lugar comum da maioria dos jogadores que, por morrer de medo da repercussão de suas declarações, prefere seguir a cartilha do blá-blá-blá. O problema é que os jornalistas se contentam com tais respostas. Ou seja, um finge que falou algo relevante e o outro finge que acredita. Sobra para os leitores/ouvintes/telespectadores/internautas que têm que se contentar com o "teatrinho".
O jornalismo esportivo, como já afirmei outras vezes, a meu ver, está cada vez mais burocrático e igual. É só pegar os jornais ou sites de notícias para ver que as matérias são praticamente as mesmas. A televisão ainda consegue variar um pouco mais, mas no hard news dos clubes, tudo é igual.
Em relação à rotulação dos jogadores, como o Abreu falou, a situação fica bem clara. Quando a imprensa decide marcar alguém sob pressão, o ataque é coletivo. Há aquele que perde gols, o gordo, o baladeiro, o bad boy, o fanfarrão, o contestador...
E os treinadores: o supersticioso, o retranqueiro, o professoral, o propotente, o "filósofo"...



Quantos jovens jogadores já não foram queimados por não corresponderem às expectativas propaladas pela mídia?


Brincadeiras à parde, o que se fez com o Deivid depois dele perder aquele gol incrível, beirou o massacre. Entende-se que nas mídias sociais a gozação corra solta, mas parte da mídia entrou na pilha. E, nesses casos, se o cara não estiver com sua cota de amor próprio muito em dia, pira.



O "Inacreditável futebol Clube" é um exemplo.
É engraçado para quem assiste, mas e para quem perde o gol?
Uma vez, questionado se mereceia o título depois de perder um gol feito, o próprio Loco Abreu teve coragem de dar sua opinião sobre o quadro, que rotulou de palhaçada.
A desculpa é de que o futebol não precisa ser levado tão a sério, mas se o deslize parte de dentro das quatro linhas, o discurso é outro, o da cobrança de profissionalismo.
Acho que nosso jornalismo esportivo tem muito a melhorar. É preciso mais ousadia para se livrar de velhos modelos e de soturnas velhas práticas como a do chamado "jabá" (publicação de material jornalístico favorável em troca de benefícios financeiros ou vantagens pessoais).
Por isso mesmo, puxões de orelha como o do uruguaio são bem vindos e necessários.

Uma história em preto e branco

O título deste post nada tem de original, é o mesmo que uso em minha coluna no site da Rádio Botafogo (www.radiobotafogo.com.br), mas se encaixa perfeitamente com o assunto do qual pretendo falar: o filme Heleno, de José Henrique Fonseca.


Assisti ao longa na última sexta-feira, mas preferi esperar alguns dias para escrever minhas impressões sobre ele.  Queria ter uma visão mais clara, menos apaixonada. Conversei com algumas pessoas que também o assistiram e ouvi suas opiniões. Li críticos de cinema e opiniões de jornalistas esportivos. E cheguei à conclusão de que Heleno é um filme que pode ser visto de formas diversas.
O filme é um grande drama. O próprio diretor assume que o objetivo era retratar a derrocada do jogador. E, realmente,  o fim da carreira e da vida de Heleno de Freitas (1920-1959) não poderia ser mais dramático: exilado de seu clube de coração, impossibilitado de jogar futebol, sozinho e em processo de demência, provocado pela sífilis, que enfim o derrotou. Aqueda de um mito é certeza de um roteiro que prenda o interesse para qualquer espectador, mesmo que este seja um jogador de futebol e a pessoa nunca tenha sido apresentada a uma bola.
A figura de Heleno fascinou Rodrigo Santoro, que se empenhou para que o projeto fosse realizado. Nunca vi Heleno em campo (embora adorasse ter visto), apenas em fotos, mas saí do cinema com a impressão de ter presenciado um processo de encarnação. Não há mais como, a partir daquele dia, não associar a figura de Heleno com Rodrigo Santoro.



Tenho amigas que veriam o filme só pelas cenas em que aparece em plena forma atlética, sedutor e charmoso como seu personagem. Elas, no entanto, também teriam que conviver com o farrapo humano em que o ator se transformou para viver o jogador em seus momentos finais, em um sanatório de Barbacena. É nesse trecho do filme que Rodrigo mostra que se tornou um grande ator e não apenas pelo sacrifício que fez ao perder 12 quilos para interpretar Heleno doente, mas por seu olhar perdido nessa parte do filme, um olhar capaz de despertar a comoção do mais insensível dos presentes na sala escura. Concordo com o colunista do Globo, Fernando Calazans: a melhor cena do filme é a da conversa entre os internos do sanatório em que Heleno tenta fazer com que um deles fume. A naturalidade da conversa é tocante.
Já quem foi ao cinema em busca de um filme sobre futebol se decepcionou. Heleno passa longe disso. Muito pouco mostra da riquíssima carreira do homem que encantou os torcedores alvinegros e tanta inveja despertou nos torcedores rivais, ao ponto de o chamarem de Gilda, personagem intempestiva vivida por Rita Hayworth no cinema.
Creio que só quem conhecia um pouco da trajetória de Heleno pode compreender certas passagens do filme, como a de seu primeiro e último jogo no Maracanã, pelo América, quando foi expulso após uma entrada violenta em um adversário, ainda aos 34 minutos do primeiro tempo.
Aqueles que o viram atuar o classificam como um fora de série e que, em sua posição, só era superado por Zizinho. Mas, na época em que atuou pelo Botafogo, Heleno era a própria Estrela Solitária que carregava no peito. Havia outros craques como Otávio e Geninho, mas nenhum capaz de se colocar no mesmo patamar do mineiro de São João Nepomuceno que descobriu, no Rio, sua verdadeira terra natal.



As glórias de sua carreira foram tantas que Heleno, apesar de não ter conquistado um título sequer, se tornou ídolo. Pensem nisso.
Pouquíssimos são os jogadores a quem se possa fazer tamanho elogio.
Sim, elogio, meus caros. Em um tempo em que "produtividade" passou a ser mérito maior do que "qualidade"; em um tempo em que goleadas de 1x0 são exaltadas por treinadores; em um tempo em que assessores de marketing praticamente entram em campo, um ídolo sem um título sequer jamais surgirá.
Imaginem, pois, o que esse homem fez em campo. E se quiserem imaginar com maior riqueza de detalhes, sugiro da leitura de livros de dois companheiros nessa prazerosa tarefa de narrar a rica história alvinegra: Os dez mais do Botafogo, de Paulo Marcelo Sampaio, e Nunca houve um homem como Heleno, de Marcos Eduardo Neves, que serviu de base para o roteiro do filme.

domingo, 8 de abril de 2012

Entre blocos e rampas

Na última quarta-feira, dia 4 de abril, perambulava eu pela Uerj enquanto aguardava a hora de minha defesa da dissertação de mestrado. Ao parar na rampa do bloco A, de onde se vislumbra o Maracanã (ou o que restou dele), vi a escadaria que subi ao chegar para o meu primeiro dia de aulas, 31 anos atrás.


Com quase 18 anos, chegava à Universidade não muito convencido do curso que iria fazer. Minha intenção era cursar Publicidade, mas não passara na UFRJ, minha primeira opção nu vestibular unificado do Cesgranrio e na Uerj só havia a habilitação de Relações Públicas (carreira que mal conhecia). Mas, ali estava eu, após saltar do 434, vindo de Copacabana, entrando, sem saber, na casa que marcaria meu futuro profissional.
A intenção inicial de começar o curso na Uerj e depois tentar uma transferência de dissipou devido a dois fatores: descobri o quanto a profissão de RP pode ser interessante, se levada a sério por uma empresa, e tive o privilégio de fazer parte de uma turma muito especial; companheiros queridos que me ajudaram a crescer e que permanecem em minha vida até hoje.
Aprendi muito e muito mais do que nos era apresentado nas salas de aula. Aprendi com cada um daqueles com quem convivia. As ideias fervilhavam. Juntos nos envolvemos em diversos projetos, como a criação do CACOS, centro acadêmico do qual acabei sendo o primeiro presidente.
Quantas histórias o hall do décimo andar tem para contar sobre nós naqueles quatro anos que passamos juntos.

Nos formamos e cada um foi para o seu lado. Meu vínculo com a Uerj, porém ainda estava longe de terminar. Três anos após estava de volta ao décimo andar, agora para integrar a primeira turma de jornalismo. Um tipo de vitória pessoal, já que tinha me empenhado muito pela criação de uma nova habilitação e pela emancipação do instituto que dividíamos com a Psicologia.
A experiência foi bem diferente da primeira passagem por aquelas salas. Voltava eu à Uerj, então, com 24 anos de idade e como muita disposição de aprender Jornalismo. A turma, contudo, era muito heterogênea e se dividiu em dois grupos, aqueles mais jovens que estavam em seu primeiro curso e os que entraram para fazer aproveitamento de estudos (muitos deles, como eu, também tinham se formado em RP).
Em 88, após uma burocrática colação de grau na sala do diretor (não havia clima, na turma, para uma formatura conjunta), parti em direção ao mercado de trabalho.
Após uma passagem pelo Jornal dos Sports, fui contratado pela TV Manchete e, de lá, segui para a TV Globo.
Quis o destino que, ao deixar a emissora, em 1995, a Uerj abrisse concurso público para telejornalismo, na vaga aberta pelo falecimento de meu professor, Sílvio Júlio Nassar. Desempregado, decidi tentar. Na época, por sorte, não se exigia mestrado e pude concorrer. Fui bem, passei em primeiro lugar e fiquei com a vaga.
Estava de volta aos corredores do décimo andar.


O salário de professor, como todos podem presumir, não é lá essas maravilhas e, assim que pude, passei a acumular as atividades acadêmicas com o trabalho diário das redações. Desde então foram várias as funções assumidas na TVE, na Manchete, no SBT e, atualmente, na TV Brasil, onde ocupo o cargo de diretor do programa Observatório da Imprensa, comandado pelo jornalista e mestre, Alberto Dines.
Também desenvolvi uma carreira literária, com 5 livros publicados até agora e mais dois previstos para 2012.
Na Uerj já se vão 16 anos de magistério.
Em 2010, finalmente, consegui concatenar horários e comecei a fazer o mestrado e na semana passada, como falei, lá no início, defendi minha dissertação, que teve a orientação de minha colega de Uerj e amiga, Sonia Virgínia Moreira. Aprovado pela banca formada pelos professores João Baptista Ferreira de Mello, da Faculdade de Geografia da Uerj, e Beatriz Becker, da ECO-UFRJ, subo mais um degrau de minha carreira e  de minha relação com este gigante de concreto fincado no bairro do Maracanã.


Que venha o doutorado, aqui mesmo na Uerj, pra não fugir à regra. Mas, daqui a um tempinho, que ninguém é de ferro...