sábado, 31 de março de 2012

Criatividade x palavras de ordem

Deu no Ancelmo de sábado, 31 de março:

 

Viúvas da Ditadura
Um avião de propaganda vai circular hoje na orla carioca saudando o golpe militar de 1964.
Foi contratado pelo grupo de coronéis da reserva que também organiza os saltos de para-quedas hoje na Praia da Barra.

Em tempo
Tomara que tudo transcorra sem incidentes como convém numa democracia, regime de governo golpeado há 48 anos.

Atos de "comemoração" do Golpe de 1964 não passam de provocações de um bando de militares de pijama que já não mandam mais nada. É certo que dentro da caserna há simpatizantes do autoritarismo que muito felizes ficariam em abocanhar o poder. Mas dar cartaz a essa pequena parcela da Forças Armadas e dar papo para maluco.



Entendo que isso doa nas vítimas da Ditadura e nos parentes daqueles que desapareceram, mas creio que há formas mais inteligentes de protestar do que gritar palavras de ordem na porta do Clube Militar. E a prova disso foi a manifestação feita na noite de 29 de março, quando foram projetadas imagens dos desmandos da Ditadura Militar na fachada do mesmo clube, na hora em que se festejavam os 48 anos do que eles chamam de "revolução". Podem ter certeza de que o impacto de tal ato foi muito maior do que o agito de bandeiras e tentativas de fechar a avenida Rio Branco. A imagem de Vladimir Herzog enforcado, estampada naquela fachada, fala muito mais alto que qualquer palavra de ordem.



Foto: Moana Mayall

Há quem acredite, no entanto, em outra técnica, a do "escracho". São manifestantes que denunciam à sociedade quem são os torturadores que atuaram no período da repressão. No dia 26 de março, um grupo que se denomina Levante Popular da Juventude, fez manifestações em seis capitais brasileiras. Em São Paulo eles se reuniram na frenta à firma de segurança de um ex-torturador que agia sob o codinome de Capitão Lisboa.



Lira Alli, integrante do movimento explica a proosta: “Nosso diálogo é com a sociedade, não com o torturador que está sendo denunciado pelo Ministério Público Federal por crimes contra a humanidade. Queremos que as pessoas saibam que este homem é um torturador. O dono dessa empresa é um torturador. David dos Santos Araújo é um torturador”.
Em outras cidades foram feitas pichações em frente às casa de ex-torturadores.




A ferida ainda está aberta e não há como negar. Uma anistia como a que foi implantada aqui é vergonhosa. Quem cometeu crimes tem que pagar.
Reza a lenda que a Comissão da Verdade vem aí para esclarecer o que foi varrido para debaixo do tapete, ou pelo menos parte disso.
Quem viver verá

quinta-feira, 29 de março de 2012

Os 5 anos mais velozes da história



A aluna Thanny Vidigal, da Faculdade de Comunicação Social da Uerj, fez chegar até mim um vídeo intitulado "O que mudou nos últimos 5 anos". O documentário realizado pela HOTWords mostra as grandes transformações vividas pelo mercado da comunicação. Profissionais da área analisam os principais acontecimentos dessa revolução tecnológica.
O material é muito bem editado, mas deve ser visto com olhar crítico, já que todos que ali aparecem estão mais dispostos a ressaltar os pontos positivos do negócio do que utilizar uma balança de prós e contras.
Mesmo assim, vale a pena assistir, até para que nós, leigos ou semi-leigos, possamos ter uma noção mais completa do que esses 2.000 dias fizeram com nossas vidas. E para tentarmos imaginar o que vem por aí.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=yz0b6oZFP-g

O traço da saudade

Ontem vi uma declaração antiga de Millôr Fernandes na qual ele dizia que uma pessoa não morre enquanto for lembrada. Depois, segundo ele, a pessoa vai sendo lembrada cada vez menos e, quando ninguém mais lembrar dela, aí sim ela morreu de verdade.
De acordo com este raciocínio o jornalista continua bem vivo. Meios de comunicação de todo o país prestaram um tributo a Millôr.
Destaque para seus companheiros de traço, que o homenagearam através de suas charges.
Exponho, abaixo, as que mais gostei:

Lute - Hoje em Dia/MG

Quinho - Estado de Minas/MG


Chico Caruso - O Globo/RJ

 Zé Dassilva - Diário Catarinense/SC
 

Alecrim - A Charge Online



Dalcio - Correio Popular/SP



 M.Jjacobsen - A Charge Online

Newton Silva - Jangadeiro Online 


 Amarildo - A Gazeta/ES








segunda-feira, 26 de março de 2012

A dor da gente não sai no jornal.

Mais um contronto entre torcedores acaba em morte. Torcedores não; marginais uniformizados, que vão aos estádios prontos para matar e morrer, e não para torcer.
Dessa vez a vítima foi André Alves, um jovem palmeirense de 21 anos, baleado na cabeça. Ele participava do confronto com corinthianos.
A PM de São Paulo disse que fazia a escolta dos palmeirenses, mas que o conflito foi tão grande que os soldados nada puderam fazer.
A briga teria sido marcada pela internet, como em tantas outras vezes, mas a PM parece não ter um serviço de inteligência capaz de vasculhar as mpidias sociais e prever esses fatos lamentáveis.
Mesmo com todos esses acontecimentos, só um ( eu disse, só um) dos principais jornais de São Paulo se dignou a colocar uma foto referente ao conflito na capa. A Folha fechou um novo clichê 0h50 e mudou sua primeira página. Os demais colocaram apenas fotos da comemoração dos gols do Corínthians e pequenos textos lembrando que alguém tinha morrido.





Os dois clichês da Folha de S.Paulo:


Pior foi o que fez o Marca Brasil, em sua edição paulista. De acordo com sua primeira página, nada de mal aconteceu na tarde paulistana.


Será que só porque o noticiário é esportivo, uma tragédia ligada ao esporte não pode ter espaço? Ou será que é melhor pensar nas vendas ao invés da notícia?
E só mais uma perguntinha: será que se a morte tivesse acontecido no Rio, ganharia mais destaque do que esta?


domingo, 25 de março de 2012

De volta às Impressões...

Caros amigos
Volto a escrever neste blog depois de uma parada forçada pela elaboração de minha dissertação de mestrado, no PPGCOM da Uerj. O texto, cujo título é "Rio de Janeiro, trajetória da imagem de 'Cidade Maravilhosa' no cinema", estará disponibilizado aqui assim que aprovado pela banca (se Deus quiser, no próximo dia 4 de abril).


O ano promete ser produtivo. Em setembro sairá a segunda edição do livro "Programa Casé - o rádio começou aqui", devidamente revisada e ampliada.


E, lá para o final do ano, mais um livro sobr o Botafogo. Convidado pela Maquinária, estou escrevendo a história da fusão que uniu o Botafogo Futebol Clube e o Clube de Regatas Botafogo, fazendo com que a estrela solitária brilhasse nos gramados e em nosso peito.


Prometo, porém, fazer de tudo para mater as Impressões Digitais em atividade. E espero contar com vocês.
Grande abraço!

Fuja, você está sendo filmado.

Em qualquer lugar que se vá, há sempre um aviso: sorria, você está sendo filmado.


As câmeras estão por toda parte, mas em nenhum outro lugar causam tanta polêmica quanto nas matérias jornalísticas.

O caso mais recente de uso de câmeras ocultas aconteceu no Fantástico de 19/3/2012. Uma reportagem dos jornalistas Eduardo Faustini e André Luiz Azevedo escancarou para a população brasileira como é fácil desviar dinheiro em concorrências públicas. Nesse caso, da saúde.


Por mais que saibamos que a corrupção corre a galope solto em nosso país, é sempre um tapa na cara assistir a reportagens desse tipo e ver que a ética escoa pelo ralo.

Acho muito bem feito que essas "ratazanas" sejam expostas e que percam seus empregos, mas lamento que os mentores sempre acabem se livrando, com a clássica desculpa de que não sabiam de nada. E como o Código Penal não os pune diretamente, depois que a poeira baixa, tudo volta ao "normal".
Punições mais duras poderiam fazer essas pessoas pensarem duas vezes antes de agirem.


Lá no início, porém, falei de polêmica.

É que o uso de câmeras ocultas em matérias jornalísticas suscita várias discussões. Noutro dia mesmo dois estagiários que trabalham comigo no Observatório da Imprensa estavam debatendo a validade do recurso e, quando consultado, dei a opinião que repasso, agora a vocês:

O uso da câmera oculta, em princípio, é baseado em uma mentira. Afinal, na maioria das vezes quem a está portando se utiliza de uma falsa identidade para conseguir melhores imagens ou depoimentos que incriminem as pessoas investigadas. Não sou advogado, mas me parece um crime de falsidade ideológica. Mas fico na dúvida: será que os fins justificam os meios? Será que a mentira pode ser usada em busca de um verdade?

Na Espanha, o Tribunal Constitucional negou que a alegação de liberdade de imprensa justificasse o uso de tal recurso e o classificou de ilegítimo, por considerar que se trata de um atentado à privacidade das pessoas.

Até entendo que, em um país como a Espanha, haja essa preocupação, já que câmeras ocultas não são usadas como ferramentas de investigação e sim como formas de bisbilhotar a vida alheia, principalmente de celebridades.

Mas e aqui no Brasil, um país com tantos casos de irregularidades a serem denunciados, será que podemos ou devemos abrir mão dessa ferramenta? Eu acho que não, como acho também que deveria haver um código de conduta, para evitar seu mau uso. Acredito que isso poderia ser um acordo tácito entre os meios de comunicação, com divulgação para o público, que poderia avaliar os excessos.

Uma ação conjunta entre autoridades e meios de comunicação, no afã de denunciar irregularidades e não de autopromoção, pode ser muito eficiente, como demonstrou a reportagem do Fantástico no Hospital de Pediatria da UFRJ.

O tema é quente e será debatido nessa terça, dia 27 de março, no Observatório da Imprensa, às dez da noite, na TV Brasil.

Ao mestre, com carinho.

Por falar em Observatório da Imprensa, posto aqui o vídeo que a equipe do programa fez em homenagem aos 80 anos de vida e 60 anos de carreira de Alberto Dines. Tenho a honra de, nos últimos 8 anos, ter compartilhado dessa trajetória. O vídeo foi editado por Emília Ferraz e Marco Antonelli.

                                            http://www.youtube.com/watch?v=HLtzv-INT-c

Recomendo, também, o programa Roda Viva, da TV Cultura, em homenagem ao Mestre.
                                          http://www.youtube.com/watch?v=3mGedgz4B8U

Preconceito racial ou social?

Noutro dia, passeando pelo Facebook, vi um post instigante, que falava mais ou menos assim: Chamam os torcedores do Flamengo de mulmbada, de pretos e favelados, e depois dizem que não são preconceituosos...Esta questão do preconceito racial sempre mexeu muito comigo. Sou radicalmente contra, mas também sei o quanto ele pode estar enraizado na gente, por mais que o detestemos.
Não sou estudioso do tema (e há muitos deles), mas acho que a explicação é histórica mesmo. O longo período de escravidão em nosso país fez com que esse preconceito fosse passando de geração para geração.

Menos mal que a situação já tenha sido bem pior e institucionalizada. Mas é claro que o preconceito ainda existe, velado ou de forma explícita.
Quanto ao post do Face, acho que pode até valer para algumas pessoas, mas essas pechas entre torcidas vai bem além da realidade. Fosse assim, todos os vascaínos seriam portugueses, todos os tricolores, gays, e todos os botafoguenses, chorões.

Acho que por aqui, o preconceito social é, atualmente, mais forte do que o racial e, aí, a música Haiti, de Caetano, não tem como não me vir à cabeça:

"Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados"

O problema é que pela questão histórica acima citada, o negro é associado associado à pobreza, à favela e, consequentemente, à criminalidade. E isso, infelizmente não ocorre apenas aqui. Nos Estados Unidos, mais precisamente no estado da Flórida, um menino negro, de 17 anos, foi assassinado por um segurança voluntário de uma cidade por estar em atitude "suspeita". E que atitude era esta? Andar com um casaco de capuz.


E o pior, o homem que o matou não foi preso, pois na Flórida há uma lei que diz que você pode atirar em alguém se se sentir ameaçado. O menino, no entanto, não estava armado e a pressão popular por uma punição aumenta.
O time de basquete do Miami Heat, há poucos dias, fez um protesto. Todos posaram para uma foto vestindo um casaco igual ao do rapaz. LeBron colocou na sua conta pessoal no Twitter a imagem com a hashtag #WeAreTrayvonMartin (#SomosTrayvonMartin).

Jogadores do Heat protestaram contra a morte de jovem
Infelizmente esse tipo de protesto é simbólico, já que tantos e tantos "Trayvons" são assassinados nos EUA, no Brasil e em tantos outros países, e muitas vezes apenas por serem negros (ou quase pretos, ou quase pretos de tão pobres).
O combate ao preconceito, para quem realmente quer combatê-lo, é um exercício de vigilância sobre os nossos próprios atos. Não se trata, apenas, de parecer politicamente correto e, sim, de assumir uma postura de correção, e sempre nos pergunatrmos: gostaríamos de ser tratados assim?

sábado, 24 de março de 2012

Trust me.. I'm a reporter.

Esta frase está estampada em vários souvenirs do Newseum, o Museu da Imprensa, em Washington DC. Há muito queria conhecê-lo e quando fiz o planejamente para as férias, incluí uma passada pela capital americana.

Já tinha uma noção do que me esperava, após algumas visitas ao site, mas o que encontrei por lá foi muito mais do que poderia esperar. Ouso dizer que o museu é quase um parque temático para nós, coleguinhas.
Logo no hall principal, um helicóptero munido com câmeras, paira sobre nossas cabeças em um vão livre de cinco andares de altura.


E as surpresas vão se sucedendo a cada sala. Mas, com toda certeza, a mais impactante é a dedicada aos atentados de 11 de setembro. Na parede, do chão ao teto, as manchetes do dia seguinte. Tentativas de exprimir o absurdo. Uma tentativa em vão, independente do idioma ou do vocabulário utilizados.


 No meio do salão, os destroços da antena que ficava sobre uma das torres. "Restos mortais" daquele que fora o maior edifício do mundo, destrído, junto com milhares de vidas, pela intolerância do ser humano.



Não há como não se emocionar.
Em uma vitrine, o equipamento de um fotógrafo morto durante a cobertura e uma frase marcante: Só três tipos de profissionais correm de encontro a uma tragédia, policiais, bombeiros e jornalistas.



O museu tem muito mais Trata-se de uma viagem não só pelahistória da Imprensa, mas pela história dos últimos séculos, através de vídeos e imagens




Pra finalizar este post, vale lembrar, também que o acervo do museu é bastante crítico em relação à mídia atual e discute os aspectos mais polêmicos de nossa profissão, como na ilustração abaixo.



Foi no museu que comprei uma camiseta que resume bem minha opinião sobre o lixo noticioso que vemos por aí.