quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O preço de uma patriotada

Escrevo esta postagem por sugestão do amigo e professor João Pedro Dias Vieira que me alertou para os problemas gerados pelo cancelamento da partida entre Brasil e Argentina por conta de uma falta de luz.

Não é de hoje que futebol e política andam de mãos dadas.

Na época da Ditadura o pessoal da esquerda chamava o futebol de ópio do povo, pois tirava a atenção da população dos temas mais urgentes do país. Mas essa estreita ligação entre o poder, a bola e as cifras está mais viva do que nunca nas democracias espalhadas por todos os continentes.

Só que, de vez em quando, o uso do futebol por políticos pode dar chabu. Como no caso do confronto entre Brasil e Argentina, pelo “Superclássico das Américas”.

A presidente vizinha, Cristina Kirchner, em sua ânsia estatizante da bola, levou a peleja para a pacata e desconhecida cidade de Resistência, a 1.000 km de Buenos Aires. Segundo os entendedores da política de lá, Kirchner quis agradar seu parceiro político Jorge Capitanich, governador da provincia do Chaco, cuja capital é Resistência. Desde 2010, quando anistiou uma dívida equivalente a 200 milhões de reais dos clubes e da Federação Argentina, o governo passou a poder escolher onde a Seleção Argentina jogaria. Por isso, um dos maiores clássicos do futebol mundial foi (ou melhor, seria) disputado no acanhadíssimo Estádio Centenário (que na verdade tem apenas um ano). Com a faca e o queijo na mão, o governo argentino também comprou os direitos de transmissão dos campeonatos para exibi-los em um canal público.



Por aqui, em se tratando de CBF, os métodos também não são dos mais desinteressados. Por “coincidência” a primeira partida do “Superclássico das Américas” foi disputada em Goiás, cuja Federação é muito bem quista pelo presidente José Maria Marin.

E muitos outros casos também já ocorreram por aqui. Lembremo-nos dos escândalos envolvendo amistosos da Seleção que acabaram provocando o afastamento do “saudoso” Ricardo Teixeira.



Mas o fato e que por conta da patriotada de ontem, muita gente amargou prejuízo. A TV Globo perdeu meia hora de seu horário nobre com um “embromation” para ver se a luz voltava. Quando viu que daquele mato não sairia coelho, tratou de botar Gabriela em campo. Agora imaginem o quanto vale meia hora de programação noturna da Globo, fora as cotas de patrocínio que já tinham sido faturadas e que não terão como ser repostas, pois provavelmente não haverá data disponível para outra partida.

Os anunciantes que pagaram pelo espaço publicitário no estádio também terão que ser ressarcidos

Isso sem falar dos patrocinadores oficiais da seleção; Nike, Itaú, Vivo, Ambev, Seara, Nestlé, Pão de Açúcar, Gillette, Volkswagen e TAM. É muito dinheiro envolvido. Em 2011, a CBF faturou R$ 219,2 milhões só com patrocínios.

Além de bagunçar a grade de programação das emissoras (O Sportv também transmitiria a partida), o apagão de Resistência também bagunçou a vida das redações de jornais.Os grandes espaços das primeiras páginas que poderiam ser disponibilizados para a partida (dependendo do resultado) acabaram tendo que ser ocupados por outras notícias (mensalão e eleições, por exemplo). Dos três grandes jornais brasileiros, só o Estadão deu a notícia na primeira página e, mesmo assim, duas minúsculas linhas. Nem o Lance, que é um jornal esportivo, deu muio espaço para o jogo.

Na imprensa argentina, que vive às turras com a presidente, tanto o La Nación quanto o Clarín destacaram o fato, classificando-o como um papelão.




O sempre bem humorado diário Olé também aproveitou para fazer críticas, não só à situação, mas também às intenções retranqueiras do técnico argentino para a partida que nem chegou a acontecer.  

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