quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Milton e seus mil tons

Em março do ano que vem faço 50 anos.

50 anos também tem a carreira de Milton Nascimento e, por mais que nunca tenha tido a honra de conhecê-lo pessoalmente, essas cinco décadas paralelas, se entrelaçam (embora insistam em dizer que paralelas só se encontram no infinito).

Faço essa afirmação pois ela é consequência de uma constatação prática. No último final de semana fui assistir ao musical “Milton Nascimento – Nada será como antes”, da dupla Cláudio Botelho e Charles Miller. Noventa minutos e quase 50 músicas depois do início do espetáculo pude concluir, sem qualquer espanto, o quanto as músicas de Milton fazem parte de diversas fases de minha vida.



O primeiro grande show que fui ver foi de Milton Nascimento, no Riocentro, acompanhado de meu primo César que, naquela época, já estudava Medicina na Uerj. O grande sucesso de Milton era a música “Raça”. Depois do show fomos a um bar na Barra e tomei minha primeira cerveja.

“Lá vem a força, lá vem a magia
Que me incendeia o corpo de alegria
Lá vem a santa maldita euforia
Que me alucina, me joga e me rodopia
Lá vem o canto, o berro de fera
Lá vem a voz de qualquer primavera
Lá vem a unha rasgando a garganta
A fome, a fúria, o sangue que já se levanta.”
                                                         (Raça)

Sempre fui fã de Milton Nascimento. É dele, ao meu ver, a voz mais bonita e precisa da MPB (pelo menos era em seu auge). O maior exemplo é a música “Beatriz”, composta por Chico Buarque e Edu Lobo para o balé “Grande Circo Místico”. A música é dificílima para qualquer mortal, mas não para Milton, que a torna um primor.

“Olha,
Será que é uma estrela,
Será que é mentira
Será que é comédia,
Será que é divina a vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida.”
                                          (Beatriz)



Nos idos dos anos 1980, no meu quarto, entre outros posteres havia um grandão com a foto dele na capa do disco “Sentinela”.
Eram tempos do ressurgimento do sonho democrático no Brasil. Lá estava eu me metendo com o Movimento Estudantil. Lá estava Milton cantando nosso sonho de um novo país

“Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver”
                                              (Coração Civil)

Quantas também foram as paixões que ganharam trilha sonora de Milton Nascimento. Naqueles tempos em que a gente fazia fitas cassete para dar de presente à namorada, Milton era presença certa na trilha sonora. Presente nos amores e nos desamores. Quem nunca cantou “Travessia” para convencer o coração de que era preciso partir pra outra?

“Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver.”
                                                                 (Travessia)

Milton e a turma do Clube da Esquina também me apresentaram o mundo de Minas, um mundo que passei a desfrutar de maneira bem intensa num determinado período de minha vida e que ficou gravado em mim. Adoro viajar, mas viajar para Minas sempre é muito bom. Ouro Preto, BH, Tiradentes, Ibitipoca... Mar de montanhas... Eita trem bão...


“A novidade é que o Brasil não é só litoral!
É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul.
Tem gente boa espalhada por esse Brasil,
que vai fazer desse lugar um bom país!
Uma notícia está chegando lá do interior.
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão.
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil,
não vai fazer desse lugar um bom país!”
                                                (Notícias do Brasil)


Por tudo isso, assistir ao musical que está em cartaz no Teatro NET Rio (antigo Teresa Rachel), mexeu comigo. Fora que o espetáculo é lindo e conta com um elenco muito bom, onde todos tocam e cantam. Além de caras mais conhecidas como as de Claudio Lins (filho de Ivan Lins) e da pianista Délia Fischer (autora dos arranjos e de quem há muito tempo sou fã), surgem belas e surpreendentes vozes como a de Wladimir Pinheiro (no vídeo abaixo), Cássia Rachel, Marya Bravo e Jules Vandystadt (arranjador dos vocais).








Não deixem de assistir.
Milton merece a homenagem e vocês merecem ouvir a obra de Milton.

“Sua voz de trovador
Com seu povo se casou
E as ruas do país são seu altar
A cidade é feliz
Com a voz do seu cantor
A cidade quer cantar com seu cantor
Ele vai sempre lembrar
Da lenha de um fogão
Das melodias vindo lá do quintal
As vozes que ele guardou
As vozes que ele amou
As vozes que ensinaram: bom é cantar”
                    (A voz feminina do cantor)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Em nome do pai (ou da mãe)

Não é raro filhos decidirem seguir os passos profissionais de seus pais. Em algumas famílias existe até um certa pressão para que isso ocorra. No consultório dentário em que me trato, a família toda trabalha junto.


Médicos, dentistas e advogados acabam tendo herdeiros profissionais mais facilmente, afinal consultórios ou escritórios já estão montados e a clientela garantida.

Eu mesmo pensei em fazer publicidade como meu pai, fui parar em RP e acabei no Jornalismo

Mas e quanto aos cargos eletivos?
Não é de hoje que se vê gerações de políticos se sucederem, só que, convenhamos, de uns tempos para cá, esse número de filhos de senadores, deputados e vereadores vem se multiplicando em PG (progressão geométrica... lembram????).

Nas próximas eleições municipais, aqui no Rio, não faltam exemplos. Começando por uma chapa de filhotes políticos em dose dupla: Rodrigo Maia (filho de César Maia) e Clarissa Garotinho (filha de Anthony e Rosinha Garotinho).


Para vereador, então é um festa. Tem pra todos os gostos. Dos veteranos, como Laura Carneiro (que continua pedindo votos aos eleitores de seu pai, o falecido senador Nélson Carneiro), a Wagner Montes - o filho, (herdeiro do deputado e apresentador de TV Wagner Montes, que, tal como o pai, tem seu slogan de campanha: “Escraaaaaaacha!!!!!!”).


E não é só o apresentador do Balanço Geral que quer ver o poder político da família crescer. Roberto Dinamite apresenta Leonardo Dinamite e a deputada Lucinha traz o Júnior da Lucinha.

Alguns prometem seguir à risca os passos de seus pais como o filho de Átila Nunes, defensor dos credos africanos, ou então Carlos Bolsonaro, disposto a manter o combate o “domínio gay” em nossa sociedade.





Desculpem-me os não citados, mas a intenção, aqui, não era fazer um levantamento e sim uma reflexão.

Será que esses jovens candidatos se inspiraram na tarefa dos pais, que dedicam suas vidas à busca do bem estar da população?

Será que se viram impelidos a seguir esse destino a tão nobre propósito?

Ou será que viram, na popularidade do papai ou da mamãe, uma chance de um emprego que lhes garanta estabilidade e aposentadoria precoce?

Infelizmente, acho que todos nós sabemos as respostas...

sábado, 25 de agosto de 2012

Nelson Rodrigues, além da obviedade

Depois  que postei a página do Meia Hora,  Liseane Morosini comentou no Facebook que a primeira página do Diário de Pernambuco tinha sido muito boa também. Como o acesso é só para assinantes, não consegui ver no dia seguinte. Mas a Malu Cabral descobriu o hotsite que o jornal montou em homenagem ao genial cronista.
Uma simulação de uma página de Facebook de Nelson Rodrigues. Com fotos, vídeos, cartazes de suas peças e filmes. Um material muito rico.



Duvido muito que, se vivo fosse, Nelson passasse perto do Facebook, mesmo assim a ideia foi genial e muito bem realizada.
Vale a pena a visita:   http://hotsites.diariodepernambuco.com.br/2012/nelson/

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Enquanto o bonde não vem (se é que vem...)

Só fui decobrir o charme do bairro de Santa Teresa nos tempos da faculdade. Uns amigos decidiram fazer um vídeo sobre o bairro com o título de "Por lá não se passa". Me encantei com suas ladeiras e com o casario.
Passei a frequentar o local. Havia muitos barzinhos, a noite era animada e, ainda por cima, tinha a vantagem de subir de bondinho (no estribo, é claro).
De uns tempos pra cá passei a adotar Santa Teresa como caminho, já que trabalho na Lapa e moro no Cosme Velho. Apesar das ruas estreitas, são cerca de 15 minutos do trabalho até em casa. Menos da metade do tempo que levo quando vou via Largo do Machado.
Porém, há um ano, os bondes deixaram de fazer parte da paisagem do bairro. O motivo foi o acidente com um dos bondinhos, no dia 27 de agosto de 2011, quando 6 pessoas morreram e 50 ficaram feridas.
A tragédia era mais do que anunciada por conta da precariedade do serviço e de anos de descaso com uma das mais charmosas atrações turísticas de nossa cidade.
Um inquérito apontou seis funcionários como culpados, inclusive o motorneiro que conduzia o bonde acidentado e que morreu no local. Nenhuma autoridade, até agora, recebeu qualquer punição.
O Governo do Estado prometeu reativar o serviço, mas isso não deve acontecer antes de 2014 (aliás, tudo nessa cidade está marcado pra 2014 ou 2016).
Os bondes serão fechados com grades, terão estribos retráteis e um corredor interno entre os bancos. Só a "casca" permanecerá igual.



Enquanto os bondes não voltam, os moradores do Rio lamentam.


Noutro dia saí om a máquina em punho e tirei umas fotos que mostram como a presença dos bondes ainda está marcada no bairro e em seus moradores.



Ao lado do local do acidente, o apelo pela volta dos bondinhos.


No local foi plantada uma muda de Pau-Brasil e colocada uma placa de protesto contra o descaso das autoridades. 




 O motorneiro que conduzia o bonde que se acidentou, Nelson Correia da Silva, foi homenageado em uma das estações e em um painel no Largo dos Guimarães.


Enquanto o Governo não consegue colocar o bonde de novo nos trilhos (ou seria melhor a ordem inversa da frase?), eles continuarão desertos,

 

o desejo de ver o bondinho passar de novo pelo alto dos Arcos da Lapa continuará reprimido


e a sinalização às margens dos trilhos continuará a ser uma inútil paisagem.




Bonde, James Bonde...

Em meio à triste lembrança do acidente, um toque de bom humor. Os moradores do bairro dizem que o único bonde que restou foi o ônibus da linha 007, que circula por aquelas ladeiras e que já foi apelidado pelos gaiatos como "James Bonde".


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Nem toda capa será castigada

Quem lê meu blog sabe que gosto de emitir minhas impressões sobre o trabalho da nossa imprensa. São opiniões que não pretendem, jamais, serem verdades absolutas e sim iscas para figar reflexões, novos enfoque, muitos debates.
O tema deste post é o jornal Meia Hora, aqui do Rio. Suas capas percorrem aquela tênue linha entre o criativo e o mau gosto. Mas sempre geram polêmica. O que pode ser muito bom.










Mas a capa do dia 23 de agosto de 2012 foi, realmente surpreendente. Leiam com atenção.

O que pode parecer, à primeira vista, um noticiário extremamente sensacionalista é, na verdade, uma brilhante homenagem à obra de Nelson Rodrigues e a seu centenário, comemorado neste dia.
Parabéns ao autor da ideia!


That's entertainment

Sou do tempo em que a Sessão da Trade passava musicais de Hollywood ao invés de “O Pestinha” e “Operação Cupido”.



Foi através desses musicais que passei a tomar gosto pelo gênero e me tornei fã de Gene Kelly. Gostava também de Fred Astaire, mas Gene sempre foi o meu preferido, até porque seus filmes eram mais divertidos, com mais apelo para uma criança.
Um ótimo exemplo é “Marujos do Amor”, quando contracenou com o ratinho Jerry.


http://www.youtube.com/watch?v=ZUIhu7_Hryg

Mas seu grande sucesso foi, mesmo, “Cantando na Chuva”. Me lembro que fui ver este filme com minha mãe, no Cine Joia, em Copacabana. Bem depois de sua estreia, é claro, já na década de 70.


O trecho em que Gene canta e dança naquele toró se transformou numa das cenas mais clássicas do cinema mundial e foi reproduzida em diversos outros filmes ou produções de TV.
Por conta dos 100 anos de nascimento de seu protagonista, o UOL listou algumas paródias da música:


No seriado Glee (um mix de Singing in the rain e Umbrella)

No filme “Laranja Mecânica”

Screen shot from Paddington's 'Singing in the rain' clip
E até com o ursinho inglês Paddington

Mas me lembrei de mais um que não foi citado: o curta de animação “Frankenstein Punk”, de Cao Hamburguer e Eliana Fonseca (um dos poucos curtas que prestaram naquele tempo em que se obrigou a exibição de curtas brasileiros antes das sessões de filmes estrangeiros)



Bacana, também é o clipe do cantor americano Usher, que foi quase perfeito ao refazer a cena da chuva. Confira:



E que tal comparar Gene e Usher? Vale a pena.



Gene Kelly fez mais de 50 filmes como ator, produtor e diretor.
Lá pelo anos 80 fez uma participação em “Xanadu”. Um de seus números foi um dueto com a linda Olívia Newton-John, em um clima bem retrô.


Gene morreu no dia 2 de fevereiro de 1996 em Beverly Hills.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Nova retomada

Caríssimos

Acabo de entregar para a Maquinária os originais do livro "Como esta estrela veio parar no meu peito", sobre os 70 anos da fusão entre o Botafogo Football Club e o Club de Regatas Botafogo.  A previsão é de que seja lançado em outubro ou novembro, com noite de autógrafos na primeira semana de dezembro.



Antes, em setembro, deve sair a segunda edição revista e ampliada do livro "Programa Casé, o rádio começou aqui". Para quem não sabe, meu avô, Ademar Casé, foi um dos pioneiros do rádio e o livro conta sua trajetória. Nessa edição haverá novos depoimentos e muitas fotos.


Como podem ver, o ano de 2012 foi bem produtivo, já que também apresentei minha dissertação de mestrado. Agora, vou sossegar um pouco e poder me dedicar mais às Impressões Digitais.

Porca miséria

Noutro dia um ex-companheiro dos tempos de SBT veio me fazer uma consulta: devia ou não colocar em seu currículo que tinha trabalhado no telejornal SBT-Rio.
A dúvida pode não parecer lógica, mas é só assistir a uma edilção do telejornal para ver que a incerteza de meu amigo procede.
Trabalhamos juntos nesse mesmo telejornal (se é que o programa, hoje, pode ter essa qualificação) e fazíamos um trabalho sério e de qualidade, se levarmos em conta os parcos recursos que tínhamos. Costumo, inclusive, a brincar com meus alunos dizendo que éramos pobres, mas éramos limpinhos.
Hoje o SBT-Rio nada mais tem a ver com o jornal que fazíamos. Basta dizer que, ao som de um funk composto para ele, o apresentador costuma a jogar seu sapato contra a câmera.



 Não é raro vê-lo com um tridente de plástico espetando a imagem de bandidos no monitor que fica no cenário.
Agora, para meu espanto, vi que ele também se veste de mulher e encarna uma personagem chamada Rebecca Forcollete, que noutro dia entrevistava um go-go boy conhecido pelo "singelo" nome de Tony Tripé.



Foi-se o tempo em este tipo de jornal popularesco apelava apenas para o sangue escorrendo na tela e para as bravatas ameaçadoras de seus apresentadores. É claro que isso continua, mas há também, agora, todo um show (dos horrores), misturando pautas "engraçadas" que dão espaço para que repórteres também tenham direito a seu número no picaeiro eletrônico.

Esta semana, por  acaso, assisti a uma matéria sobre um sujeito que tem um porco de estimação e passeia com ele pela zona sul do Rio.


http://www.youtube.com/watch?v=VermNOZR9uw

Tudo bem que não é uma pauta brilhante, mas poderia, se bem feita, ser até curiosa. Só que, no caso do SBT-Rio, o porco apenas fez "escada" para o número cômico-jornalístico de Daniel Penna-Firme.



Entre tantas gracinhas, chegou ao climax beijando o focinho do porco.


Me dei ao trabalho de solicitar uma cópia da matéria.
A guardarei com carinho e a exibirei para meus alunos.
Pelo menos essa serventia terá.
Entenderam o porquê do temor do meu amigo? Vai que alguém acha que ele foi responsável por algo do gênero...
Para nós que trabalhamos lá é triste, muito triste, ver tudo isso.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Rindo do próprio umbigo

Sou fã de chargistas, tanto que incluímos, há algum tempo, um quadro com as melhores charges da semana no Observatório da Imprensa. O olhar crítico e bem humorado dos chargistas é um exercício de criatividade que muito me agrada.
Graças ao Facebook acabei descobrindo os trabalhos de um ótimo caricaturista americano chamado Gary Varvel.




Ele trabalha para um jornal de médio porte, o Indianapolis Star, do estado de Indiana. Sua linha política pode até ser taxada como mais conservadora, mas quando o assunto é criticar os costumes americanos, ele sobresai.
Separei alguns cartoons muito interessantes. Espero que vocês também curtam.









Essa última merece uma explicação. Trata-se de uma charge sobre a determinação do governo americano de punir empresas que exageram no açúcar em seus alimentos.