segunda-feira, 9 de maio de 2011

No escurinho do cinema

Gosto das coincidências desta vida.

Recentemente, por conta de minha pesquisa para o mestrado, me deparei com um texto sobre os primeiros cinemas do Rio de Janeiro.
Noutro dia foi meu amigo Jacques Eskinazi que me ligou perguntando se não valia a pena escrever um livro sobre os cinemas que desapareceram das ruas da cidade. Concordei com ele que valia um livro, mas que já havia sido escrito por Alice Gonzaga: “Palácios e Poeiras – 100 anos de cinema no Rio de Janeiro”.


E não é que nesse final de semana recebo um e-mail de outro amigo, José Augusto “Naná” Nascimento, do SBT, com fotos antigas do Rio e de muitas fachadas de cinemas de Copacabana.

Não são todos até porque antes do advento dos cinemas de shopping centers, o bairro tinha muitos cinemas de rua. Além dos que aqui são mostrados, eu frequentei o Cinema 1 (na Prado Junior), o Cinema 2 (na Raul Pompéia), o Condor, (na galeria que liga a Figueiredo com a Barata Ribeiro), além do Art Palácio, Metro e Joia (na N.S. De Copacabana).

De todos aqui citados e mostrados, só o Roxy e o Joia permanecem “vivos”. Este último, recém reformado.

Vejam as fotos e matem as saudades.


Minha lembrança mais antiga deste cinema é a de ter assistido um filme que tinha o cantor Wanderley Cardoso como protagonista. Fui procurar no Google e tenho quase certeza de que era este filme do cartaz abaixo.



No Rian foram incontáveis filmes. Pouco tempo antes do prédio ser demolido para virar o hotel Rio Atlântica (hoje, Pestana), fui assistir a "E.T". com a Dadi, numa sessão à tarde, lotada de crianças. Jamais vou me esquecer da reação da garotada na cena em que a bicicleta sai voando.




No Caruso, bem depois do tempo desta foto, assisti a "Manhattan" e me apaixonei por Mariel Hemingway. Foi meu primeiro contato com os filmes de Woody Allen, de quem passei a ser fã de carteirinha.




No Copacabana assistia à matinée e à soirée pagando um ingresso só. Naqueles tempos, o lanterninha deixava que ficássemos. Foi no Copacabana que assisti ao primeiro filme impróprio para menores de 18 anos. Não me lembro qual foi, mas foi lá também que vi a "Rainha dos Baixinhos" do jeito como só Pelé e outros privilegiados a tinham visto até então. 





No Ricamar, fui às primeiras sessões de meia-noite. Eram ótimas opções para aqueles períodos em que estava sem namorada. Porém o cinema fez parte de minha vida desde minha infância. Me lembro de ter visto no Ricamar várias vezes um filme em que havia um Dinamarquês ou um Dogue Alemão que vivia numa casa onde também moravam três pequineses. Os cachorrinhos faziam o diabo na casa e o cachorrão sempre levava a culpa. Adoraria me lembrar do nome do filme, mas me falha a memória (mesmo com a ajuda do Google). Outra recordação de infância foi de ver, lá, o filme do Ursinho Puff (muito antes dele virar Pooh).



 

O bom e velho Roxy ainda permanece de pé, embora tenha sido dividido por três. Pela foto acima, quem não o frequentou pode ter ideia do que estou falando. E o mais incrível é que em algumas estreias tive que sentar no chão, pois todos os ingressos já haviam sido vendidos. Foi o caso de "Orca, a baleia assassina"



Como esquecer também do filme "Terremoto"? É que foi instalado nas cadeiras do cinema um sistema chamado "Surround" que fazia com que tudo vibrasse nas cenas em que o chão tremia na telona. Uma inovação e tanto...



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Publicar ou não publicar? That´s the question... (Parte 2)

Com essa polêmica sobre a publicação ou não da foto de Osama morto, me lembrei de um episódio de 2004, quando a Al Qaeda atacou a estação de trens de Atocha, em Madri, provocando quase duzentas mortes.
O jornalista do El País, Pablo Torres Guerrero passava pelo local e com sua câmera fez as primeiras fotos das vítimas. De tão fortes, foram venddidas à Reuters, que as distribuiu para seus clientes por todo o mundo.
Só que o uso de uma foto em particular acabou provocando uma discussão ético-jornalística.
Trata-se de um flagrante de atendimento aos feridos, em meio aos trilhos. O problema é que um pedaço de corpo humano, que parece ser de uma perna, aparecia na foto.



O El País publicou a foto na íntegra em sua edição do dia seguinte.



Já alguns jornais, como os brasileiros Diário de S.Paulo e Jornal do Brasil, optaram por uma manipulação digital da foto, fazendo com que a perna simplesmente desaparecesse.







Esse exemplo é só um lembrete de como essa questão de expor uma foto chocante é polêmica.
Só acho que a manipulação é trapaça. Cortem a foto ou não a publiquem.
Aceitar manipulçação em fotojornalismo abre precedentes muito perigosos.

Publicar ou não publicar? That´s the question...

Três pessoas vieram me perguntar se publicaria ou não as fotos de Osama Bin Laden morto.
São muitos os aspectos políticos, éticos e jornalísticos, mas acho que se eu tivesse essa opção e dependendo do tipo de imagem apresentada, eu tentaria publicá-la protegendo, no entanto, o leitor ou o telespectador, ocultando detalhes mais chocantes.

Sobre esta questão, dou palavra ao mestre.
Vejam o artigo de Alberto Dines, publicado no site Observatório da Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/)




Publicar ou não publicar as fotos

Por Alberto Dines em 5/5/2011

A mídia mundial transformou-se na quinta-feira, dia 5 de maio, num gigantesco Observatório da Imprensa: junto com os fatos está discutindo como tratá-los. Publicar ou não publicar, eis a questão.

O dilema ficou mais nítido nas últimas horas de quarta-feira, quando os portais de internet dos grandes veículos de comunicação do mundo receberam da Reuters as fotos dos três acompanhantes de Osama bin Laden mortos junto com ele em Abbottabad e obtidas por intermédio da generosa polícia paquistanesa.

O portal do Estadão preferiu não chocar os seus leitores e leitoras: vetou a reprodução das horrorosas imagens. Já os portais da Folha, El País e The Guardian compreenderam que era seu dever publicá-las. Não porque sejam adequadas – certamente não são – mas como uma tomada de posição antecipada diante da decisão da Casa Branca de não mostrar o crânio esfacelado do inimigo público nº 1, o ex-comandante da Al-Qaida.

Vítima potencial

Convém lembrar que este debate sobre a divulgação de imagens chocantes ficou agudo a partir do momento em que o terrorismo tornou-se cotidiano. Os terroristas precisam do apoio da mídia para intimidar e apavorar. Nos dias seguintes ao 11 de setembro de 2001, o grosso da mídia americana evitou a exposição de corpos despedaçados para não aumentar o desespero da nação e foi acusada – sobretudo por setores da esquerda – de promover a autocensura.

O mesmo debate aconteceu em seguida aos atentados de 11 de março de 2004, em Madri, com um complemento: o governo de José Maria Aznar pretendia enganar o eleitorado acusando os terroristas bascos de serem os responsáveis pelo massacre. Estava errado: a mídia independente provou a responsabilidade dos seguidores de Bin Laden.

Este dilema nos remete a uma questão anterior, aparentemente política, mas na realidade eminentemente midiática: por que razão o governo americano preferiu matar o terrorista Bin Laden ao invés de capturá-lo, julgá-lo publicamente e executá-lo, tal como fez o governo de Israel com o genocida nº 1, Adolf Eichmann, em 11 de maio de 1960, há quase exatos 51 anos?

Por que não fez a Casa Branca o mesmo que fizera com Sadam Hussein, preso num buraco como um rato e depois enforcado pelo governo do Iraque?

Em nenhum dos dois casos a mídia mundial foi complacente ou minimizou as culpas dos monstros. Ao contrário. A cobertura do julgamento de Eichmann em Jerusalém foi decisiva para tirar o Holocausto de um prematuro esquecimento.

A mídia democrática jamais favorecerá o terrorismo porque ela sabe que pode ser sua próxima vítima.
***
O lema do New York Times desde 1896, "All the News that Fit to Print" – todas as notícias adequadas à publicação – transferiu à direção do jornal a responsabilidade de definir o que é próprio ou impróprio para publicação. No passado, esta adequação ficava no âmbito religioso, político, legal ou da moral do momento. A adoção daquele moto pelo jornalão americano no fim do século 19 revela um esforço para profissionalizar critérios, o que nem sempre é possível considerando a diversidade de visões daqueles que comandam o processo decisório na indústria jornalística.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ilegal, e daí???

Imaginem a cena. Você chega em uma esquina do centro de uma grande cidade brasileira e repara no cenário que o cerca. Carros estacionados sobre a calçada, um mendigo dormindo sob uma marquise, camelôs vendendo DVDs pirateados, um gato de energia elétrica em uma barraquinha de cachorro quente, um anotador do jogo do bicho, lixo no chão e o cheiro da urina de algum mijão. Uma série de irregularidades “comuns” que de tão corriqueiras acabamos não percebendo mais.


Mas por que falo de tudo isso? Por que cada vez nos questionamos menos sobre o que há de errado à nossa volta. Por que estamos perdendo a capacidade de nos indignar, de protestar, de agir...

Nesta terça-feira, dia 03/05, eu e minha mulher, Fernanda, assistimos a duas reportagens do Jornal Nacional que nos espantaram. O texto da correspondente Giuliana Morrone explicava de que forma os Estados Unidos tomaram conhecimento do esconderijo de Osama Bin Laden e como se desenvolveu toda a ação, já no VT de Luis Fernando Silva Pinto vinham as explicações do governo americano para a morte do terrorista.. A cada frase uma irregularidade ianque suplantava a outra. A ver:

- As informações partiram da Base de Guantánamo, que nada mais é do que um campo de concentração americano em território cubano. Um absurdo que a comunidade internacional aceita passivamente.

- De acordo com a reportagem um dos presos falou sobre a existência de um mensageiro que fazia a ligação de Osama com a Al Qaeda depois de ser submetido a tortura. Até o ponto que eu sei, tortura é uma prática condenada pela Declaração dos Direitos Humanos.


- O porta-voz da Presidência, admitiu que a operação ocorreu sem a permissão do governo paquistanês, que Osama Bin Laden estava desarmado e que foi morto porque reagiu. Quando questionado pelos repórteres como isso seria possível, o diretor repondeu que uma pessoa não precisa ter uma arma de fogo para reagir.

Fora isso, os Estados Unidos ainda decidiram qual seria o destino do corpo de Bin Laden e o sepultaram no mar.

Longe de mim ser um defensor de Bin Laden, ou de qualquer ação terrorista. O 11 de setembro foi um dos episódios mais chocantes que já presenciei. Acho mesmo que ele deveria ser condenado à morte, mas só depois de passar por um julgamento.

Alguns de vocês podem dizer que os americanos apenas abreviaram a condenação, mas e a Justiça, onde fica nessa história. Quer dizer que dependendo da situação os direitos fundamentais podem ou não ser concedidos? E quem decide isso? O Tio Sam?

O ditador iraquiano Saddam Hussein, preso por tropas americanas foi a julgamento e, em 5 de novembro de 2006, foi condenado à morte na forca.


Por que com Osama foi diferente? Será que era melhor calá-lo?

Ainda bem que a mídia mundial tem questionado alguns pontos, embora nem todos, como a manutenção da base de Guantánamo, por exemplo. Talvez, por conta desta pressão, os americanos sejam obrigados a abrir mais o jogo, como têm feito, inclusive admitindo suas falhas e excessos. Talvez tenham que ceder à pressão e satisfazer as demandas da opinião pública.

É bom quando a imprensa pensa e não apenas publica.
É bom quando o leitor/telespectador analisa e não apenas lê/assiste.
Por isso mesmo deixo aqui uma pergunta. O mundo inteiro ouviu quando Barack Obama disse: “Justice has been done” (A justiça foi feita). Mas será que foi feita a justiça ou a vingança é que foi levada a cabo?

Os dois termos, decididamente, não são sinônimos.
 

Charge do cartunista Quinho, publicada no jornal Estado de Minas

terça-feira, 3 de maio de 2011

Suíte global

Antes de começar mais um post sobre a cobertura da mídia no caso Osama, uma correção sobre o post anterior. Quando falei dos jornais europeus disse que só o Le Monde saíra com uma edição extra, mas nada como ter bons mestres para reconhecer nossos erros. De acordo com Alberto dines, o Le Monde conseguiu dar a capa pelo simples fato de que é um jornal vespertino, o que lheu deu o tempo necessário para noticiar o fato.



Um dia depois, portanto os jornais da Ásia, oriente Médio e Europa puderam enfim estampar a história em suas primeiras páginas



Este jornal indiano aproveitou para criticar o Paquistão, país com quem a Índia vive às turras por questões territoriais.




A revista americana Time saiu com uma edição extraordinária e fez, na capa, uma analogia à clássica capa publicada depois da morte de Adolf Hitler em abril de 1945.


Aliás esta é a única comparação cabível entre a cobertura da morte do ditador nazista com a do terrorrista Osama Bin Laden. 



Hoje em dia a tecnologia anda de mãos dadas com a informação e ela surge instantânea, às vezes quase sem querer. Foi o caso do paquistanês Sohaib Athar, dono do perfil @ReallyVirtual no Twitter. Ele postou sobre a aproximação dos helicópteros ao local, dizendo esperar que "não fosse o começo de nada ruim". Horas depois, ele escreveu no microblog: "Sou o cara que blogou ao vivo sobre o ataque a Osama sem saber". Procurado pela imprensa de todo o mundo, se desculpou dizendo não poder atender a todos que tentaram contato para que contasse sua história. E filosofou: "Aqueles que sonham com muitos fãs devem precisar de um psiquiatra".



Pena que nem todos pensem assim. Celebridades logo começaram a tuitar suas impressões sobre a morte do terrorista. E a mídia, é claro, tratou de reproduzir.
A título de ilustração faço o mesmo aqui.

A cantora Lady Gaga foi uma das primeira a se manifestar. "Acabo de pousar. Assistindo a CNN, é um momento histórico na luta contra o ódio". O comediante Jim Carrey também escreveu sobre o fato. "Uau! Eles mataram o Bicho Papão! Eu senti que havia algo no ar hoje à noite! Bin Laden já era!". Já a cantora Lily Allen mandou um recado aos fãs. "Eu sei que Osama Bin Laden está morto, mas se todos pudéssemos parar por um minuto para considerar verdadeira notícia de hoje eu apreciaria muito. (...) É meu aniversário, faço 26".
Profundos como um pires...





Nunca tantos tuitaram...
Entre 22h45 e 2h30, horário na costa leste dos Estados Unidos, foram 3.440 tweets por segundo, a taxa mais alta registrada na história da rede social. No momento de maior intensidade, foram publicados mais de 5.100 tweets por segundo.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

A notícia global

Estava eu, no fim de domingo, assistindo a um partida de beisebol (sim.... eu gosto de beisebol) com a TV sem som para não incomodar a esposa, que madruga, quando foi mostrada a imagem de um torcedor que,  ao invés de estar vendo o jogo, olhava atentamente para um monitor de um dos camarotes; nele aparecia a imagem de Osama Bin Laden.
Não foi preciso ser muito esperto para ver que algo grande havia acontecido. Virei para a CNN e lá estava a notícia da morte do líder terrorista. Pouco tempo depois voltei ao jogo e a toda hora eram mostradas imagens de pessoas lendo a notícia em seus blackberries e smartphones.
A notícia, hoje em dia, corre assim, como um rastilho de pólvora aceso de desenho animado. Impossível pará-la.
Minutos depois Barack Obama estava frente às câmeras para oficializar o fato e angariar os louros.
Uma única cãmera e milhares de reproduções quase que instantâneas.

Levaram a pior os jornais europeus. Traídos pelo fuso horário, não puderam estampar a importante manchete em suas primeiras páginas. Pelo que deu pra ver pelo site Kiosko.net, dos principais periódicos do Velho Mundo, só o Le Monde aparecia lá com uma edição extra.




O britãnico The Times, em seu site aproveitou para vender uma primeira página digital, em sua versão para IPad.

Por aqui, favorecidos pelo fuso, os jornais brasileiros em geral conseguiram dar a capa. Bastou um novo clichê.



Porém, e é óbvio, que a notícia causou maior impacto nos Estados Unidos. As manchetes, na sua enorme maioria, foram comedidas. Talvez até por falta de maiores detalhes.








Porém,  principalmente nos tablóides e nos jornais de menor expressão, o sentimento raivoso, guardado há dez anos, explodiu na primeira página. Mas será que dá pra condenar???





O curioso foi o fato de dois jornais, um de Toronto, no Canadá, e ou tro de Nova Iorque, darem a mesma manchete: "Rot in hell", ou seja "Apodreça no inferno".

 

Como toda notícia global, a morte de Bin Laden ganhou uma dimesão gigantesca pelos sites mundo afora, abrindo espaço para aproveitadores. Uma suposta foto do terrorista morto começou a circular por diversos sites de meios de comunicação.



Mas, com a mesma rapidez que uma mentira é disseminada na Internet, vem o seu desmentido. A manipulação da imagem tinha como origem uma das fotografias mais conhecidas de Bin Laden. Ela foi mesclada, no Photoshop, com outra de um homem supostamente morto por golpes e disparos de arma de fogo.


 
O terrorista também ajudou a infectar computadores de todo o país. Um vírus foi enviado por e-mail com o assunto “Veja o vídeo em que Osama Bin Laden aparece segurando jornal com data de hoje e desmente sua morte relatada por Obama”. Clicando no link o usuário era infectado por vírus capaz de monitorar o acesso a sites de bancos para roubar informações.

Por maior que seja a vontade de estar informado, é bom ficar de olho.
Se Osama foi mesmo morto ontem à noite, eu não sei...
Mas, sei que a curiosidade matou o gato.