quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Se o poeta falou, tá falado...



"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."

Carlos Drummond de Andrade - JB, dezembro de 1997

Um feliz Natal e um Ano Novo como o poeta sonhou.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O politicamente correto no futebol. Uma praga que se alastra dentro e fora das quatro linhas

O texto abaixo é o resumo de um artigo que fiz para o mestrado la da Uerj. São reflexões sobre uma das coisas mais chatas do futebol atual,m o comportamento politicamente correto dos jogadores, técnicos, e o que é pior, da mídia. Também está postado no blog Comunicação, Esporte e Cultura ( http://comunicacaoeesporte.wordpress.com/ ).








"Há muito tempo atrás, reza a lenda que em 1958, surgiu o grito de “Olé” nos estádios. O primeiro registro oficial, pelo menos para nós brasileiros, se deu em uma partida amistosa entre Botafogo e River Plate, da Argentina, em um torneio no México. Acostumados com as touradas, herdadas da colonização espanhola, os mexicanos presentes àquela partida se encantaram a tal ponto com a atuação de Garrincha, que a cada novo drible qua aplicava sobre os seus marcadores, passaram a gritar o bordão apregoado nas arenas de touradas.


O grito pegou por aqui. Só que, de uns tempos para cá, o “Olé” passou a ser visto como uma ofensa; um desrespeito ao colega de profissão. Não raro se vê a reação raivosa do adversário que decide revidar , não na bola, mas na sola. E o pior é que logo surge uma voz em sua defesa, com argumentos do tipo: “O jogador perdeu a cabeça, porque se sentiu provocado”.

Não que não existam provocações, muitas delas ficaram famosas. Em 99, embaixadinhas feitas pelo atacante Edilson, em jogo entre Corínthians e Palmeiras gerou uma pancadaria generalizada e resultou no corte do jogador, que disputaria a Copa América com a Seleção.



Mas os casos não são tão claros assim. Por exemplo, poderíamos considerar provocação o gol marcado por Túlio contra o Universidad Católica do Chile, em 1996, no Maracanã? Nesse jogo o Botafogo vencia por 3x1 quando, no último minuto a bola sobrou para o artilheiro, quase em cima da linha, com o goleiro já batido. Ele virou-se de costas para o gol, levantou a bola e a tocou de calcanhar para as redes, o que deixou os jogadores chilenos revoltados. O goleador fez pouco caso da repercussão e respondeu: “Na hora só pensei no espetáculo, no show. Não foi provocação. Foi irreverência”.



O drible, entre a cruz e a espada.

Se o futebol é um jogo onde o objetivo é você levar a bola até dentro da meta do adversário, sem permitir que este a retome, o drible é uma ferramenta fundamental para qualquer jogador que pretenda vencer uma partida. Mas o drible, coitado, nem sempre é bem aceito; principalmente quando aplicado com um quê de criatividade e uma boa dose de habilidade. Os zagueiros botinudos que o digam.

Quase todos gostam de ver um belo drible. Estão aí craques que comprovam esta teoria, como Ronaldinho Gaúcho ou Robinho, só para citar dois exemplos brasileiros mais atuais. Os “malabarismos” logo ganham destaque na internet e nas redes de TV, como exemplos de genialidade, como prova inequívoca de que o chamado “futebol-arte” ainda respira. Mas, mesmo assim, a imprensa esportiva, afetada pelos sintomas do vírus da postura politicamente correta, não deixa de questionar, sistematicamente, alguns tipos de lance. É como ficasse divida entre o belo e o eficaz, entre o atrevimento e a seriedade, entre o talento e o profissionalismo.



Uma clara demonstração sobre o que falo acima se deu quando um jovem jogador do Cruzeiro, de Belo Horizonte, chamado Kerlon, começou a aplicar um tipo de finta que a mídia passou a denominar de “drible da foca”. O jogador chegou à conclusão de que de passasse por seu marcador equilibrando a bola com toques de cabeça, este dificilmente conseguiria tirá-la de seu domínio sem fazer falta. A jogada, inusitada, logo recebeu a desaprovação de jogadores. Uma desaprovação, aliás, que foi bem além da teoria. Em uma partida entre Atlético e Cruzeiro, no Mineirão, Kerlon tentou o lance e foi agredido acintosamente pelo lateral-direito Coelho A punição do jogador não passou de cinco partidas. Entrevistado após a sentença, o lateral disse que o meia cruzeirense acabou privilegiado pelo incidente, já que virou notícia e tornou a sua jogada ainda mais famosa: “O Kerlon virou estrela depois disso. Além disso, não dá para comparar a jogada dele com a de outros craques. Ele está longe de ser um Garrincha – criticou.

O que seria de Garrincha nos nossos dias?

Todo mundo já viu, pelo menos uma vez, as poucas imagens de Mané Garrincha que estão disponíveis nas emissoras de TV do país. São fintas e mais fintas que rebaixam o “drible da foca” de Kerlon a mera estripulia. O camisa 7 do Botafogo construiu sua fama e sua horda de admiradores justamente por causa de seus dribles mirabolantes. Ao deixar um, dois, três marcadores no chão, Mané arrancava um sorriso até mesmo do torcedor adversário que só não aplaudia por que corria o risco de tomar uns safanões de algum companheiro mais esquentado.

Mas como é que os marcadores de Garrincha reagiam às diabruras do ponta? Será que levavam as investidas e os rodopios de Mané como uma ofensa pessoal?

De acordo com o documentário que está sendo produzido pelo jornalista e cineasta André Felipe de Lima, a relação entre o atacante e os principais defensores daquela época era outro. No filme “Simplesmente passarinho, André apresenta os depoimentos dos ex-laterais-esquerdos Jordan (Flamengo), Coronel (Vasco) e Altair (Fluminense). Em todos eles, um misto de admiração e de respeito pelo colega.

"Se você desse um pontapé nele, estava ferrado. Ele driblava e, ao invés de ir para o gol, esperava você voltar para driblar novamente", recorda Altair.


O que mudou no futebol atual? De acordo com o sociólogo e antropólogo Hugo Lovisolo, “Parece que hoje existe uma pressão igualitarista. No tempo de Pelé, Garrincha ou Maradona, havia um consenso de que eles eram superiores. É como se fizéssemos uma associação com o artista e o artesão. O artesão não tem o talento do artista. Mas agora existe essa pressão igualitarista. Como o artista vai provar que é mais talentoso que o artesão, se ao tentar fazer isso o acusam de querer impor sua superioridade? Acho que antigamente isso era aceito com naturalidade. As pessoas não se sentiam inferiores por isso, porque eram poucos os que eram realmente superiores. E o que parece é que agora as pessoas não querem mais aceitar isso”.

Nem o gol é mais o mesmo

Já dizia o título de um velho programa da TV Bandeirantes que o gol se trata do grande momento do futebol, mas até essa máxima parece ser incapaz de suplantar a praga do politicamente correto no futebol atual.

Não sei ao certo quem foi o primeiro jogador a não comemorar um gol por ter algum tipo de vínculo afetivo com o clube adversário, mas o fato é que a atitude sempre tão louvada pela mídia esportiva não para de ganhar adeptos.

Será que há este verdadeiro sentimento ou alguns jogadores descobriram que isso faz bem à imagem deles, que uma atitude como aquela o coloca em um patamar diferenciado dos demais e que, ao menos lhe garante uma porta aberta caso queira voltar um dia ao clube que o dispensou?

Na vitória de 4x1 sobre o Flamengo, no segundo turno do campeonato brasileiro de 2010, o atacante Obina, apesar de marcar pelo Atlético Mineiro, preferiu não comemorar. O discurso para os microfones, ao final da partida já estava na ponta da língua: “Foi em respeito à torcida e ao clube que me deu uma projeção muito grande”.



Ou seja, comemorar um gol contra um time pelo qual o jogador já atuou passou a ser desrespeito, Haja melindres.

A falta de comemoração até pode ser notícia, mas quando surge algum tipo de provocação após um gol, a mídia esportiva se vê diante de um prato cheio.

Um dos nomes que usou e abusou deste tipo de comemorações foi o centro-avante Viola. Estava sempre pronto a inventar uma nova coreografia, sendo que algumas delas tinham a ver com seus adversários. A mais marcante foi durante as finais do campeonato paulista de 1993. Ao marcar contra o Palmeiras, o atacante corinthiano ficou de quatro e chafurdou no gramado imitando um porco, símbolo do time rival. A repercussão foi enorme, mas isso não impediu que Viola, três anos depois, vestisse a camisa do Palmeiras e nem que fosse campeão mundial pela Seleção em 94.


Nada de novo no front

Talvez por conta desta sede de notícias, por conta desta exposição exacerbada dos profissionais da bola, eles estejam cada vez mais entregues à “mesmice” em suas entrevistas. As declarações de técnicos e jogadores à imprensa parecem seguir algum tipo de manual. Um guia de respostas padronizadas. Uma apologia à falta de conteúdo. E o que é pior, nossa mídia esportiva não está nem aí e aceita qualquer resposta, qualquer palavreado, por mais disparatado que possa perceber.

Chega a ser curioso, mas o único tipo de reação que a mídia esportiva apresenta é quando se depara com alguém que resolva falar. O técnico Muricy Ramalho foi diversas vezes de “marrento” por fugir deste padrão. Com seu jeito mal humorado, o treinador diverge de jornalistas, questiona a razão de algumas perguntas e não poupa críticas à postura de alguns profissionais. Nessa hora surge um corporativismo midiático que beira o non sense. A “ovelha negra” é levada ao pelourinho midiático e açoitado com ironias e palavras duras.



Acabaram-se as declarações polêmicas. As provocações sadias, como a que o goleiro Manga fazia com os jogadores do Flamengo na década de 60. O arqueiro botafoguense sempre dizia, na semana antes dos jogos contra o rubro-negro, que a mulher dele podia fazer as compras pedindo fiado, pois o “bicho” de domingo já estava garantido.

Uma praga globalizada

Mas, não pensem vocês que esta onda do politicamente correto é um privilégio do futebol brasileiro. Em outras partes do planeta também é assim.

Recentemente estive na Espanha e acompanhei uma entrevista coletiva do badalado treinador José Mourinho, do Real Madrid e o que se viu foi algo bem semelhante ao que acontece aqui. Fora a bela estrutura para os jornalistas oferecida pelo centro de treinamento do clube madrilenho, tudo mais era igual: repórteres com perguntas burocráticas e um treinador, de cima de seu pedestal, falando o óbvio.



Porém, o que mais me chamou a atenção neste meu périplo futebolístico espanhol foi uma jogada que ocorreu na partida entre Real Madrid e Atlético de Madri , no estádio Santiago Bernabeu. No final do segundo tempo, com a partida já decidida para o time da casa, uma bola alta veio em direção a Cristiano Ronaldo. Ao ver que estava adiantado, ao invés de recuar, deixou que ela batesse em suas costas e deu um passe inusitado para o companheiro. Para mim e para as pessoas que estavam no estádio, aquilo não passou de uma jogada curiosa do português. Mas, para seus adversários, não.



Me espantei ao ver, no noticiário do dia seguinte, que aquele lance bobo havia gerado uma grande celeuma. Um canal de TV flagrara jogadores do Atlético ofendendo Cristiano por ter feito a jogada. Nas primeiras páginas dos jornais Ás e Marca, os dois principais diários esportivos da Espanha, mais lenha na fogueira. A jogada ganhou até um nome: “espaldinha”.

Os argumentos dos jogadores do Atlético eram os mesmos que os que são apresentados aqui, ou seja, de que Cristiano Ronaldo não faria um a jogada daquelas se o jogo estivesse 0x0.

O jornalista do Diário Marca, David Padilla saiu em defesa do portugês e em seu artigo perguntou: se o passe tivesse sido de peito, haveria tanta polêmica? Para o jornalista, Cristiano é um jogador especial que faz, sim este tipo de jogadas inusitadas seja qual for o adversário, seja qual for o resultado da partida. Para David, isso é bem melhor do que o craque se preocupar em revidar as botinadas que recebe de seus marcadores.

Em defesa de Cristiano Ronaldo também falou o técnico José Mourinho: “Outros fizeram algo parecido antes e era fantástico, era magia espetacular. O que o Campeonato Espanhol precisa, o que o mundo do futebol gosta e o que as crianças sonham em fazer é esse tipo de coisa. Mas para alguns é fantástico e para outros, não.”

Mas será que se o lance fosse contra seu time, a postura seria a mesma? Ou ele tiraria o politicamente correto do banco e o mandaria para campo? "

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O fim do JB

Meu colega da Uerj, professor marcelo Kischinhevsky produziu com seus alunos um dossiê sobre o fim do Jornal do Brasil em papel. A série de reportagens e entrevistas, em texto, áudio e vídeo, traça uma radiografia da derrocada do Jornal do Brasil e discute as perspectivas do jornalismo impresso em tempos de convergência de mídia. O resultado foi consolidado em blog, que pode ser acessado pelo link:


http://tributoaojb.wordpress.com/

Uma outra dica referente a este que já foi o jornal mais importante do país é o acesso ao acervo do jornal, que foi digitalizado pelo Google. É de graça.

http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC


Um santo domingo

Como em todos os domingos, rolava um bate-papo entre santos numa ampla nuvem no céu.


Em um canto, São Jorge, lá de cima, espiava agoniado o jogo do Corínthians no Serra Dourada. Ao perceber que as coisas estavam complicadas para seus apadrinhados chamou São Judas Tadeu em um canto e pediu ajuda ao amigo, afinal ele era o padroeiro das causas impossíveis. Mas São Judas nem quis ouvir e retrucou:

Depois que eu consegui livrar o Flamengo do rebaixamento na última rodada, decidi deixar de lado esta história de futebol. E se formos falar de causa impossível, eu teria que ajudar é o Botafogo, que sonha com a Libertadores, mas para isso tem que ganhar do Grêmio e ainda torcer pro Goiás perder na Sulamericana.

São Jorge apelou então para Santo Expedito, afinal a causa do Timão era mais do que urgente. Nada feito, o santo já tinha se comprometido com o pessoal do Atlético Goianiense.

E o vitória, quem é que vai ficar por conta do Vitória?

Ninguém em especial, respondeu São benedito. É que em Salvador tem tanta igreja que os pedidos acabaram se espalhando para todo os santos.

Trezentas e sessenta e cinco igrejas a Bahia tem, cantarolou Santo Amaro.

Ai eu adoro as músicas desse menino Dorival, suspirou Santa Clara. Noutro dia mesmo ele estava cantarolando numa nuvem aqui pertinho. Ele fez uma música tão linda pra mim...

Na mesma hora um corinho de querubins começou a cantarolar:



Santa Clara clareou
São Domingos alumou
Vai chuva, vem sol
Vai chuva,vem sol



Quem ria de toda aquela agonia de Jorge era São Paulo. Afinal estava de folga no fim de semana. O time paulista jogava só para cumprir tabela.

Com o gol do Fluminense, São Sebastião comemorou.

Vou ser bicampeão. Flamengo no ano passado e agora o tricolor.

Finda a rodada, Jorge estava inconsolável.

Poxa, mas logo no ano do centenário... Chegamos tão perto.

São Pedro, que durante a partida torcera pelo time do amigo, chegou perto e cochichou com um sorrisinho nos lábios..

Ganhar eles ganharam. Mas se te serve de consolo, você vai ver só o que preparei para a festa dos cariocas...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O clima de "Já ganhou"

Este blog está longe de ser monotemático, mas pelo grande interesse das pessoas no tema da ocupação de áreas dominadas pelo tráfico, no Rio, não há como não continuar falando sobre o tema.
Nos últimos dias recebi diversos e-mails com textos que alertam sobre a situação. Alguns mais críticos, outros mais condescendentes.
Mas gostaria de falar, aqui, sobre o clima que percebi na imprensa de ontem e, principalmente, nos jornais de hoje.
Quem gosta de futebol conhece bem o termo "Já ganhou". Ele é utilizado às vésperas de um jogo fácil, quando o time se encontra confiante, achando que o resultado já está no papo. E muitas vezes, esse excesso de "salto alto" acaba complicando as coisas.



Numa leitura dos jornais de hoje e de suas manchetes, não só aqui, mas pelo Brasil afora, senti um clima de "Já ganhou". Um perigoso clima de "Já ganhou". Pois, se encararmos a situação com realismo, veremos que este jogo está muito longe de terminar.





Sei que é importante ressaltarmos conquistas. Sei que é importante mostrar que a bandidagem não é invencível ( muito pelo contrário, como já disse aqui, acho que a mídia sempre os elevou a patamares irreais) e sei que é importante mostrar o apoio popular às forças de ocupação, mas, novamente, peço equilíbrio.
No O Globo desta segunda-feira (29/11) o texto de primeira página do caderno especial foi uma ode ao que o jornal classifica como "uma conquista que ficará para sempre marcada na História da cidade".
Frases de efeito desdenhavam do poderio dos traficantes: "À medida em que os policiais progrediam morro acima, o mito do poderio da facção criminosa rolava morro abaixo". "Como ratos, chegaram a tentar fugir pelo esgotos".  Mais adiante o texto tece loas à eficiência da estratégia utilizada: "... o poder público revelou uma estratégia militar que consiste na progressão gradual e certeira sobre o territótio, semelhante à utilizada pelas trpas aliadas ao ocupar a Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial...Assim como Paris foi retomada no passado, a polícia também, com passos milimetricamente pensados, recuperou o Alemão".
Isso é jornalismo, mesmo??? Só faltaram associar o complexo do Alemão, ao nazismo (já que é alemão também).
O objetivo de achincalhar com o tráfico foi levado a extremos. O Globo abre espaço, na capa do jornal para dizer que um dos bandidos "urinou nas calças na hora da prisão".
Outros jornais até mostraram a foto que comprovava o "fato", mas nenhum chegou a explicitar o detalhe.





Ufanismo vende jornal, mas não é jornalisticamente correto, pelo menos na minha modesta opinião.
Mas o que fica claro, analisando as primeiras páginas de diversos jornais espalhados pelo Brasil, que a invasão do Alemão é uma "luz no fim do túnel", não só para o Rio de Janeiro, mas como para todos os grandes centros urbanos que são atingidos pelo tráfico de drogas. O tom das manchetes reflete isso.







E não há como negar que o Rio de Janeiro, apesar de tudo e de todos, é a grande vitrine deste país. O que acontece aqui se reflete em todo o País e no exterior. No Cone Sul, a operação policial também ocupou as primeiras páginas.






O que acho é que a posição de nossa imprensa, pelo menos daqui pra frente, deve ser mais isenta, mais analítica, mais crítica. É preciso cobrar resultados não só na área policial, mas na área social também. O Estado tem que voltar a incluir essas áreas ocupadas no mapa da cidade. Não dá mais para recuar. Um retrocesso seria colocar em risco a vida de milhares de pessoas que deram a cara à mídia para legitimar as ações do poder público. O que seria delas no caso da volta do tráfico. O que seria do jovem Renê, um menino de 17 anos que mantém um jornal na comunidade e que foi exaltado pelo jornal O Dia por manter as pessoas de fora do morro informadas pelo Twiter.


As autoridades têm o dever de proteger essa gente e a mídia tem o dever de cobrar isso.
Cobranças como as que o Correio Braziliense já começou a fazer, indo na contra-mão do ufanismo reinante.


Agora, independentemente do conteúdo ideológico da foto abaixo, não há como não admirar o belíssimo fjagrante de Pablo Jacob, na capa do caderno especial de O Globo. É de uma felicidade digna de Prêmio Esso de Jornalismo.



Alguns podem dizer que foi sorte, mas é aquela coisa: a sorte só ajuda quem ajuda a sorte.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

De bandeja

Fiquei impressionado com a repercussão do post anterior sobre o posicionamento de nossa imprensa na onda de violência que atinge o Rio. Seja por aqui, por e-mail ou via Facebook diversos amigos, "coleguinhas" ou não, deram sua opinião.
Este blog nunca foi tão visitado.
O assunto é polêmico e mobiliza nós todos.
Na tarde desta quinta-feira a TV Globo, aqui no Rio, passou quase cinco horas no ar, de forma ininterrupta transmitindo imagens dos confrontos na Vila Cruzeiro e, num determinado momento, conseguiu cenas realmente impressionantes dos bandidos em uma fuga desesperada. Imagens inéditas que mostravam marginais de rabo entre as pernas, acuados.





O problema, a meu ver,  foi que a cobertura se estendeu demais, graças, com toda certeza, a bons índices de audiência. Os helicópteros que participaram deste "esforço de reportagem" começaram, então, a buscar focos de incêndio que iam surgindo em pontos isolados do subúrbio.



Neste ponto vocês podem perguntar: e qual o problema? A emissora não estava prestando um serviço à população?
Para o BOPE não. Segundo a repórter Glauce Tolomei, pelo Twiter, o batalhão afirmava que os helicópteros da Redcord e da Globo estavam prestando um desserviço à população.
O problema, na minha opinião é o exagero.
Será que ao verem que qualquer foco de incêndio logo era mostrado pelas emissoras, bandidos não se sentiram ainda mais incentivados a colocarem fogo em outros veículos? Afinal este é o objetivo deles, mostrar seu poder de fogo (literalmente) e provocar medo.
É claro que não dá para dizer que foi isso que aconteceu, mas convenhamos que não se trata de uma hipótese absurda.
Pelo Facebook, meu amigo e bom jornalista Diogo Mourão lembrava:  "é o mesmo efeito de mostrar pichações, guardando todas as proporções".
E para quem acha que isso é uma teoria da conspiração, trago o depoimento de outra boa jornalista, a repórter Claudia Ramos: "...O Ibope dessas emissoras que transmitiram o tempo todo deve ter ido lá em cima e o que interessa é isso para eles. E bandido é antenado. Eles seguem tudo, sabem tudo. Lembro-me de uma entrevista que o Celsinho da Vila Vintén deu logo depois de ser preso. Ele sacaneou a imprensa dizendo que lia tudo o que saia e achava a maior graça das 'besteira 'que, segundo ele, era publicada. Mas, de qualquer modo, acho que o dever da imprensa é mostrar, o que não suporto é o sensacionalismo".

Nessa linha de que acabamos dando munição ao inimigo, o Jornal Nacional deu uma clara amostra do que estamos falando. O repórter Paulo Renato Soares fez uma matéria sobre os carros blindados da Marinha que estão sendo usados no apoio à Polícia.





O problema é que a reportagem dava todas as características técnicas dos veículos, como por exemplo ao dizer que um deles resiste até a balas de calibre 30. Ou seja, é o mesmo que dizer: bandidos, providenciem uma metralhadora ponto 50 que ela dá jeito (lembram-se de que há suspeitas de que foi uma metralhadora assim que derrubou um helicóptero da Polícia no Morro dos Macacos?).
Mais à frente a reportagem descrevia quantos militares são transportados em cada um deles e o alcance das armas.
Agora eu pergunto: pra que dar esses detalhes? Isso é para intimidar os bandidos? Se for essa a argumentação, não dá pra pensar que o tiro pode acabar saindo pela culatra? Será que não deveria ter se pensado nisso quando o "canto da sereia" de uma matéria exclusiva seduziu pauteiro e chefia?
Não bastasse, a matéria também descrevia em quais estradas o policiamento seria reforçado. Muito bom.... Permite que a bandidagem planeje rotas alternativas. Muito interessante mesmo...



Pra fechar, fica a pergunta: será que o melhor procedimento numa "guerra" é dar munição ao adversário?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Cadê o meu capacete?

Este artigo começa diferente, com uma nota do autor. Na verdade, trata-se de uma pensata sobre a cobertura da mídia carioca quando o assunto é violência urbana. Nele estarão questionamentos e convicções próprias de um jornalista que durante 20 anos trabalhou com este tipo de noticiário em telejornais diários. Ao leitor, peço que reflita e que debata também. Afinal, se estamos longe de uma solução para o tema, com certeza ela passa por um sério debate.


Nos jornais, na internet, nas rádios e nos noticiários de TV a nova onda de violência no Rio de Janeiro está nas manchetes. Não se trata de uma novidade, porém, já que a cidade sofre constantemente com ações do tráfico de drogas e a mídia brasileira está sempre pronta a noticiar os fatos.

Isso é um problema? Claro que não, afinal a imprensa deve noticiar fatos. Mas o que me pergunto é: isso está sendo feito da maneira correta ou, muitas vezes, a nossa mídia carrega nas tintas?

Essa mais recente ofensiva dos bandidos cariocas foi classificada, em alguns meios de comunicação como “A guerra do Rio”. Isso é jornalismo, ou tal bordão não passa de um artifício jornalístico para valorizar uma manchete?



A fronteira, temos que admitir, é uma linha tênue. Mas, se aceitarmos que se trata realmente de uma guerra, não caberia à imprensa se comportar de forma mais cuidadosa, se preocupando mais com o lado dos “mocinhos”, ao invés de supervalorizar as ações dos bandidos? Ou a notícia deve ser dada, doa a quem doer?

Um noticiário além da medida não gera uma sensação de pânico na população? E isso não acaba sendo favorável aos bandidos? Só nessa quarta-feira (24/11) ouvi falar sobre um caminhão bomba na Ponte (falso), cenas de guerrilha com tiroteio dentro do túnel Rebouças (falso também) e de uma ameça de bomba em Ipanema (era uma caixa de madeira vazia que seria utilizada em uma ação promocional). Boatos que vão se multiplicando, impulsionados pelo medo.



Não quero minimizar a situação, mas também acho que é importante refletir sobre ela. Era inevitável que em algum momento houvesse algum tipo de reação contra a implantação das UPPs. Não se coloca um elefante dentro de uma loja de cristais sem que alguns copos sejam quebrados. Só que ao invés desde tipo de interpretação ser feito por nossa mídia, opta-se por manchete espalhafatosas que só engrandecem os atos criminosos. Na semana passada começaram a juntar esses casos e logo se proclamava que havia uma nova modalidade de crime no Rio. Agora pensem comigo: esse tipo de abordagem não acaba oficializando ações que poderiam até ser isoladas e dando, como dizem por aí, “ideia para maluco”?

E o pior é ouvir no rádio que a culpa é do Governo, que decidiu mexer numa situação que estava sob controle (??????). O comunicador (?????) que nem merece ser citado dizia aos brados que se tinham mexido com o vespeiro, agora deviam aguentar as ferroadas. Uma irresponsabilidade total.

Ao meu ver, nossa imprensa dá mais importância para os bandidos do que eles próprios se dão. E quando eles vêem que alguma ação apavora as pessoas, passam a intensificá-la, realimentando o círculo vicioso.

Este tipo de ação assusta? Claro que sim, mas raciocinemos: qualquer moleque, a mando do tráfico pode jogar uma garrafa de gasolina sob um carro ou um ônibus e tocar fogo nele. É pouco? Não. Mas, infelizmente, também já vivemos situações bem mais graves nesta cidade. Só que a cada nova ofensiva, uma luz de alerta se acende dentro de cada carioca e de nossa imprensa. Uma reação analisada pelo sociólogo Ignácio Cano em recente entrevista para a BBC Brasil: “As pessoas lidam com insegurança no Rio de forma cíclica e dramática. Para conviver com o alto nível de violência na cidade, as pessoas tratam como se ela não existisse. Mas, então, surge um evento de grande repercussão e vira uma pauta central na cidade, todos discutem, é uma grande catarse”.

O que fazer? Não noticiar?

Não. Acho que essa não é a solução, nem o papel do jornalismo. Mas creio que numa situação de "guerra", que existe segundo os próprios meios de comunicação, a imprensa deveria tomar alguns cuidados. Acho que alguns erros são crassos. No meu entender, da mesma forma como existe um acordo informal para não se noticiar suicídios, para não se divulgar valor de resgates de sequestros ou de venda de substâncias ilícitas, também deveria haver um bloqueio a certas informações ligadas ao tráfico de drogas. Por exemplo: acho que traficante e bandido não têm nome, nem tampouco cargo ou posto. Bandido é bandido, traficante é traficante.

A ética entre esses marginais é inversa. Bandido que tem nome no jornal é o "bicho", é o cara que está barbarizando e por isso mesmo passa a ser mais respeitado e a ter mais poder.

Se o Fernandinho Beira-Mar está preso, esqueçamos que ele existe, a não ser que alguma notícia sobre ele seja realmente necessária. Não dá é para ficar falando dele cada vez que vier prestar depoimento no Rio. Rei morto, rei posto.

Não podemos ficar servindo de diário oficial da bandidagem, mas o problema é que isso dá IBOPE e não faltam programas jornalísticos (porque telejornais não são) ou programas de rádio ou jornais populares quase que totalmente voltados para esta questão da violência na cidade.

Para terminar, estampo aqui a manchete da primeira página do jornal Extra de hoje (24/11). “UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) X UPP (Unidos Pelo Pó)”. Fico pensando no que se passava na cabeça de quem bolou tal manchete. E só me vem uma resposta: cifras (de tiragem e de faturamento).

Será que é assim que tem que ser???????

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Achados de um perdido

Exite um dito popular que afirma que "para se achar é preciso se perder". E foi seguindo estas palavras ao pé da letra que decidi aproveitar minhas horas livres em Madri para me perder pela capital espanhola. Assim que chegava ao hotel, pegava a máquina fotográfica e saía batendo perna por lugares que não havia conhecido das outras vezes em que estive por lá. Como andava sozinho, seguia até cansar. E andei muito. Em uma semana em Madri, não peguei um metrô sequer. Para onde a vista apontava, eu seguia. E quando algo me atría, fotografava.


Duvidar por que, se tão perto do inverno as roseiras insitem em florir?



Espelho urbano, espelho meu...


Arquitetura é obra de arte.


E arte também enfeita a arquitetura.

Don Miguel de Cervantes sobre fundo azul.

A nudez em bronze.

Os grafites e suas verdades.

Um pedaço de Brasil perdido em meio às "pulgas" do mercado.



E a bela bandeira espanhola tremulando por toda parte.